O Vaginismo é um reflexo dos músculos próximos à vagina, que se contraem involuntariamente, dificultando e até impedindo a penetração do pênis durante a relação sexual. Esse mecanismo dá início a um círculo vicioso de ansiedade: Primeiramente, existe uma tensão, que gera dor na tentativa de penetração, que, por conseguinte, gera uma nova tensão, que causa mais dor na próxima tentativa e assim por diante.
Normalmente, o vaginismo não tem procedências orgânicas. Suas causas são psicológicas e o medo condiciona os músculos a uma reação de contratura. Esse medo pode ser motivado por: tentativas coitais dolorosas e repetidas; educação restritiva e/ou punitiva; vivências educacionais destruidoras ou traumáticas; tentativa(s) de estupro; visualização de cenas de sadismo ou, até mesmo, de relatos distorcidos sobre a vida sexual.
Além da dor e dificuldade na penetração, há casos em que as mulheres com vaginismo sentem prazer ou ganho secundário, pela “falta” do orgasmo, uma vez que é comum viverem com parceiros “impotentes”, numa situação de complacência ou conivência sexual; trazendo assim um “pseudo” equilíbrio sexual, sem queixas. Em outros casos, há mulheres que desistem dos relacionamentos heterossexuais. E, há algumas, ainda, que sublimam inteiramente a sexualidade.
Existe dois tipos de vaginismo, o primário e o secundário. O primeiro ocorre nos casos em que a dificuldade se manifestou desde a primeira tentativa de penetração e, em geral, essas pacientes possuem o hímen íntegro ou parcialmente roto. Já o secundário ocorre após um período de vida sexual ativa, determinado por uma motivação suficientemente forte para estabelecer a resposta de dor.
Para tratar de tal problema pode-se contar com ajuda de médicos, fisioterapeutas e psicólogos, cada um com uma diferente forma de abordagem, porém mesmo diagnóstico. O médico vai fazer recomendações à paciente ou ao casal e as vezes prescreve anestésicos. O fisioterapeuta vai trabalhar com os dilatadores para fortalecimento da musculatura dos músculos responsáveis pelo ato sexual e o psicólogo terá uma abordagem de escuta e intervenções tanto no sofrimento produzidos pelos sintomas, bem como das causas. Freud (1996), em sua vasta e maravilhosa obra, destaca a “castração” que é vivida pelas mulheres no processo normal de seu desenvolvimento sexual. Ele dá ênfase às possíveis fixações (ou marcas) produzidas pelas vivências, inconscientemente dolorosas, que advém desse desenvolvimento e que mais tarde contribuirão para a formação de sintomas. Ao considerar esse viés, creio que o vaginismo seja apenas um sintoma – com raízes muito profundas e inconscientes – pertencente a uma determinada categoria de estrutura de personalidade.
É muito comum também a queixa de mulheres sobre a dor nas relações, mas que não são consideradas vaginismo. Na realidade as duas disfunções produzem dor; porém, a dor durante as relações ou mesmo só no inicio da penetração damos o nome de dispareunia. As dores durante a relação podem ser causadas por lubrificação vaginal inadequada, malformações vulvovaginais, vulvovaginites, traumatismos vulvovaginais, alterações tróficas, lesões dermatológicas ou afecções do aparelho urinário, dentre outras. Mesmo, geralmente, tendo causas físicas, há sempre um comprometimento psíquico, que contribui para ampliar a intensidade do sintoma doloroso. A dor produzida pela tentativa de cópula soma-se à frustração e ao medo, gerando a tensão dos músculos constritores, que deixa a mulher ainda mais apreensiva e agrava a situação vivenciada. Na Dispareunia, as causas psicológicas mais comuns encontram-se em histórias de vida marcadas por abuso sexual; por conflitos no relacionamento conjugal; ou por questões emocionais profundas e traumáticas que podem levar a pessoa a “boicotar” o prazer; por exemplo.
A principal preocupação é a de a mulher ter vaginismo e estar em uma relação como o casamento. Os casamentos duram, porém ficam muito desgastados. A frustração sentida pelo parceiro à cada tentativa, leva-o à um sentimento de castração e o deixa sem saída: ou ele escolhe ser conivente com a situação e não procurar mais a relação com a sua mulher e consequentemente, também desenvolve sintomas, ou mostra essa insatisfação através de discussões e brigas o que leva geralmente ao desgaste e posterior separação.
O prazer sexual inclui os genitais, mas, não é só isso. Algumas pacientes vagínicas não têm problemas com desejo, com a excitação e/ou com orgasmo, respondem bem ao estímulo sexual, têm boa lubrificação vaginal e consideram gratificantes as relações sexuais que não envolvem o coito. Ela não precisa abandonar a luta pelo seu prazer nem mesmo deixar o seu parceiro somente em tentativas frustradas. O terapeuta além de trabalhar as causas, técnicas de aproximação para efetivar a penetração, também trabalha novas formas de relacionamento sexual.
O tratamento para o vaginismo aborda individualmente a mulher portadora e que pode ser concomitante ou não com a fisioterapia, para o uso dos dilatadores. Também é prudente atender o casal em seus conflitos e atualmente percebe-se a necessidade do atendimento individualizado para o parceiro. As teorias e técnicas sugeridas pela linha cognitiva e comportamental têm produzido bons resultados no manejo do programa terapêutico. Além disso, baseando-se na Psicanálise, os especialistas em Sexualidade Humana podem trabalhar, não só as queixas, mas, também, as causas inconscientes e mais profundas do problema. É muito importante não se conformar com a ausência do prazer ou com a presença da dor. Toda mulher merece ter prazer de verdade e ser feliz sexualmente.