Sogras – Relações Parentais
Entrevista concedida à Rádio Inconfidência em 29 de março de 2016
Nem sempre a relação com sogra é harmônica. Culturalmente, é clara a dificuldade de noras, genros e sogras de se relacionarem bem. Há aquelas que não conseguem conviver sob o mesmo lugar, nem conversar. Muitas pessoas não percebem a oportunidade de aprendizado nestas relações e acabam criando muros e resistência que cristalizam com o passar do tempo. Ainda no mês da mulher vamos falar delas com esse assunto instigante. Quem conversa conosco agora é a sexóloga Sônia Eustáquia Fonseca.
1 – Os desentendimentos entre sogras e noras/e ou genros me parece um comportamento muito antigo e, ao que tudo indica, fizeram e fazem parte do cotidiano de várias culturas. O que existe por trás desse comportamento feminino que parece permear culturas e épocas, as mais distintas?
Até o final do século 19, por exemplo, (ou até mesmo no século 20), as sogras orientais, como chinesas e japonesas, tinham uma fama de trazerem suas noras com rédea curta. A questão histórica pode corresponder à natureza instintiva do relacionamento entre mãe e filho. As mães podem desenvolver sentimento de posse em relação aos seus filhos, podem sentir-se “donas” de seus filhos a partir do momento que são responsáveis por suas vidas enquanto seres indefesos e totalmente dependente de suas mães para sobreviver nos 1ºs anos de vida. Esse sentimento pode gerar sentimento de “poder”. Esta sensação de poder pode alimentar ações que vão contra o bem-estar dos seres que mais amam, seus filhos.
2 -Toda mãe é uma futura sogra em potencial. Antes de ter um filho (ou filha) se casando, como uma mulher pode se preparar para ser uma boa sogra? Em quais atitudes ela deve prestar atenção na relação com o filho?
Não existe um modelo a ser seguido no que diz respeito a preparação para ser uma boa sogra. Talvez o fundamental seja encarar de forma aberta a relação com a futura nora/genro e não os encarar como rivais do amor dos filhos, mas como futuros integrantes do núcleo familiar. Lembre-se: assim como você se casou com o filho (a) de alguém um dia, talvez alguém se case com o seu.
3 – As relações nem sempre são difíceis? Sabemos que há possibilidade de o convívio ser ótimo também, desde os primeiros momentos de namoro dos filhos. Porque esse momento da vida é diferente de pessoa para pessoa?
Porque as pessoas são muito diferentes umas das outras e a relação difícil acontece geralmente porque a sogra tem ciúmes da nora ou genro e os enxerga como rivais. O ciúme e a raiva, talvez sejam os sentimentos mais presentes, o que é natural para quem está se iniciando neste papel, e acontece casos cujo processo se desenvolve pela admiração e respeito as diferenças. Quando acontece disputa de poder, a relação sofre perdas acentuadas para ambos os lados.
4 – Como lidar com as diferenças e as novas relações?
Viver é arriscado e tudo é dinâmico a nossa volta, incluindo os relacionamentos. Podemos exemplificar o Viver como uma peça de teatro, onde representamos sem ensaiar. Tudo que fazemos nesse cenário já está valendo. Não temos direito a ensaio. Por isso temos que prestar atenção em tudo que fazemos e principalmente temos que nos esforçar para nos tornar uma pessoa melhor a cada dia. Não vale a pena nos desgastarmos com sentimentos hostis, ódios, invejas etc. Temos que aprender a nos adaptar e conviver bem com o diferente e fazer esforço para melhorar a nossa disposição frente as novas relações.
5 – Quais são os sentimentos que mais atrapalham a relação com a nora? Sentimento de posse com relação ao filho? Ciúme? Falta de limite? O que a sogra pode fazer quando identifica que está incorrendo nesses comportamentos?
No geral, os sentimentos que mais atrapalham são ciúme, inveja, raiva e insegurança. Sentimentos que salientam a rivalidade. Mas o x da questão é que a nora não é uma rival, já que ela não disputa o amor do filho: ela o tem, de diferente forma.
6 – É possível amar e tratar a nora como se fosse uma filha? Qual o segredo para uma relação amorosa e saudável com a nora?
Sogra e nora podem se respeitar, conviver bem, ter uma relação de mãe e filha. É importante perceber que a nora se tornou parte da família e não é aquela que rouba o filho para si, afastando-o da família. A relação com a mãe é muito mais íntima do que com a sogra. Você pode se dar muito bem com sua nora, mas é sempre bom manter uma saudável distância. E essa já é a primeira das dicas para ser a sogra que toda nora pediu a Deus
7 – Muita gente fala sobre a síndrome do “ninho vazio”, o que é mesmo essa síndrome? Essa seria uma das causas de tanto descontentamento, principalmente por parte da mulher que é sogra?
O certo é que, os filhos acabam saindo de casa em determinado momento. Seja porque vão casar, ou irão cursar a universidade em outra cidade, ou ainda por buscar independência. Mas, o que deveria ser motivo de alegria pode se tornar pesadelo. Pois, é a partir deste momento que surge a síndrome do ninho vazio.
A síndrome do ninho vazio (SNV), é um desconforto emocional dos pais ao verem seus filhos deixando a casa, e o ninho vazio, descreve o período emocionalmente difícil pela mudança de papel dos pais. Os estudos mais antigos enfatizavam, em particular, o sofrimento das mulheres, associando a quadros depressivos pela perda do papel de cuidadora dos filhos, função tradicionalmente ligada ao papel feminino. Mulheres que dedicaram sua vida, de modo exclusivo, à criação dos filhos e que acham difícil vê-los partindo, momento em que pode acontecer uma mudança de autoconceito, que passa a ser “me tornei inútil”, o que é sempre legitimado pelo rebaixamento da autoestima. Lançar-se a novas atividades prazerosas pode restabelecer a segurança e o sentido de vida dessas mulheres.
8 – Essa é uma dificuldade não é só da mulher, parece que ela afeta também o homem, o casal na verdade. Porque funciona dessa maneira?
Essa costuma ser a fase de maior dificuldade para o casal. Este tem duas ou mais gerações para cuidar: por um lado, seus pais, que estão envelhecendo, e, por outro, seus filhos, que estão criando uma nova família e necessitam de ajuda. Além disso, pessoas no período da SNV se deparam com outras mudanças em seu ciclo vital, ou seja, além de os filhos deixarem a casa, pais e mães frequentemente enfrentam a aposentadoria e as mulheres se encontram no início da menopausa, o que pode agravar sentimentos de depressão e baixa autoestima. Atualmente, ainda se observa que homens também passaram a sofrer com a saída dos filhos de casa, diferentemente do que costumava ocorrer até o século passado.
9 – O momento de separação dessas mães e pais com os filhos, seja pelo casamento ou não, interfere na sexualidade do casal?
Sim. Costuma interferir muito. Um casal mais triste ou deprimido pode sofrer alteração na energia sexual ou desejo e nesse caso, todas as outras fases da relação sexual como a excitação a ereção para o homem e a lubrificação para a mulher também ficarão afetadas. Na sequência vem o orgasmo que também ficará afetado ou não acontecerá. É uma fase que coincide com os 50 anos ou mais, onde há mudanças naturais na vida sexual do casal, tais como a diminuição da libido ou o desconforto de ter relações sexuais devido a menopausa nas mulheres, que gera níveis mais baixos de estrogênio e secura vaginal, e chamada “andropausa” nos homens, levando a sentir cansaço e diminuição do desejo.
Além disso, doenças como diabetes, hipertensão e cardiovasculares também podem afetar o interesse sexual e o desempenho. Outros fatores, enraizados em nossa cultura, são a maior influência sobre a diminuição do desejo sexual nesta fase da a vida.
10 – Atualmente, considerando o empoderamento da mulher, ainda é muito comum essas mudanças nesse seu ciclo de vida? No passado era diferente?
Antigamente as mulheres viviam só para o lar. Hoje trabalham, têm profissão, dividem as despesas. As sogras que são mulheres ativas têm mais chances de não serem tão invasivas. Quem está ocupado com a própria vida tem pouco tempo para dar palpite e se importar com a dos outros.
11 – Proximidade ajuda ou atrapalha nessa relação sogra/nora?
Depende muito do tipo de envolvimento. Há sogras que aproveitam a proximidade para dar palpites, tomar partido, tentar resolver situações sem a permissão do casal, e pode atrapalhar a harmonia da família. Mas a proximidade no sentido de auxiliar no crescimento do neto, trocar experiências, podem ser válidas.