Na visão bíblica, Eva foi tirada da costela de Adão, primeiro ser humano criado por DEUS. Nesse contexto, as mulheres eram vistas em função da maternidade e estão sob o domínio masculino. As mulheres são citadas rapidamente, como parte de uma história protagonizada por homens ou então, quando se reconhece como elas são importantes, muitas vezes, é para alertar para o perigo que elas representam.
Temos que levar em conta que a leitura bíblica exige contextualização da narrativa, qualquer que seja o assunto tratado. Os textos sagrados resultam da tradução oral e inadvertidamente há uma tendência em considerá-los como se fossem histórias factuais.
É necessário que sejam lidos à luz do contexto sócio, econômico, político, cultural e religioso da época em que foram escritos.
A formação da mulher só pode ser compreendida dentro do esquema literário de sabedoria popular. Creio não se tratar de fazer uma leitura no sentido estrito da palavra de que a mulher foi tirada da costela do homem, mas de que foi criada, como o homem, por Deus. Supõe-se que o autor sagrado tenha recorrido á tais palavras, reafirmando como a expressão ossos dos meus ossos, carne da minha carne (Gn 2,22), de modo a acentuar a igualdade, a solidariedade e companheirismo entre os dois.
Fazendo um passeio através da história e das diversas culturas, descobrimos uma enorme variação de condutas femininas, e a mulher vencendo reveses e uma série de barreiras, chegando aos dias atuais, empunhando uma bandeira de vitória, de igualdade, de companheirismo e de integração ao homem. Necessitando ainda ocupar o seu lugar conquistado e desfrutar dessas conquistas em cargos políticos, ainda pouco ocupados por elas.
A sexualidade que vivemos atualmente nada mais é do que “aquilo que a humanidade fez dela, ou que foi obrigada a fazê-lo em face a uma série de variáveis circunstanciais”. Podemos situar a evolução sob seu tríplice aspecto: REPRODUÇÃO, PRAZER E COMUNICAÇÃO AMOROSA.
Num primeiro momento a mulher é venerada por sua capacidade procriativa como fonte primária de vida e o sexo não estava associado à gravidez. O homem não representava elemento fundamental no processo reprodutivo e por isso o matriarcado imperava. As relações sexuais favoreciam aos homens pois o coito era feito por trás como os animais e era impossível as mulheres terem orgasmos. Aos poucos, a conscientização do papel do homem na reprodução, foi surgindo (quando o homem se tornou pastor e observou o cruzamento dos animais), levando em conta a relação coito x gravidez, que fez o homem perceber seu poder reprodutor.
Surgia aí o machismo e todo o império feminino decaía. Justificava-se a poligamia e a arrogância masculina. As deusas femininas deram lugar aos deuses masculinos e o culto ao pênis, como talismã contra a infertilidade, se tornou uma norma cultural.
A mulher passou a ser um mero receptáculo para o desenvolvimento fetal e vista apenas como colaboradora no processo de criação. Com tudo, a colaboração de mulheres não implicava o direito ao prazer, mesmo porque a falta de orgasmo não impede a concepção. A ideia de sexo e reprodução ainda tem seu remanescentes em algumas correntes ortodoxas religiosas, levando as mulheres estéreis à conflitos e sentimentos de culpa. Se ela não pode gerar também não pode ter prazer.
É na Grécia Antiga, que podemos distinguir com detalhes significativos as manifestações da sexualidade humana: os gregos chegaram a dar nomes distintos à: EROS- prazer carnal, ÁGAPE- amor puro, prazer espiritualizado, FILOS- afeição e amizade. Chegaram a dicotomizar o ser humano como: ser animal e ser racional. Isso na prática significava vivenciar a sexualidade na família como sexo reprodução, as vezes aliado ao companheirismo com a esposa e o sexo prazer vivenciado com prostitutas.
Não resta dúvida que dentro dessa ótica a possibilidade de se ver o sexo como sujeira e até como transgressão.
No outro estremo, situam-se os cartesianos não moralistas que intendem o sexo e a sexualidade como fonte única e absoluta de prazer, puramente num aqui e agora, exigente e fugaz. Nesse caso, buscam compulsivamente estímulos novos, posições extravagantes, afrodisíacos e outras parafernálias, que garantem o desempenho fisiológico pleno.
O que podemos dizer é que, embora com enfoques diferentes, os dois se completam e, aliando-se a filos tornam-se globalizantes e humanizam o amor.
É interessante observar que as duas concepções, aparentemente opostas, prevalecem através dos tempos, hora indulgente e tolerante, hora repressiva e tirânica, usando o pecado e a vergonha como forma de controle.
Um fato, porém, é verdadeiro e tem atravessado os séculos. A tirania e a repressão têm vitimado muito mais as mulheres, enquanto a indulgência e a tolerância acobertam os homens.
Em fim, sexo, simplesmente como prazer, ou simplesmente como forma de reprodução dão ideia incompleta da sexualidade e não satisfazem ao ser humano. Sexo é acima de tudo uma forma de comunicação, ele é amor. Quebrando barreiras, um ser pode se prolongar no outro como uma forma mística de comunhão primordial: isso é sexo como COMUNICAÇÃO AMOROSA. É diversão, é prazer e é êxtase. Torna-se possível planejar a reprodução e vivenciar o prazer. É a soma de EROS e ÁGAPE. Podemos dizer, que sexo é a forma mais criativa, mais prazerosa, mais intensa e mais perfeita da comunicação humana e em que apreendemos o dar e receber, como uma constante.