O estudo correlacionou a capacidade orgástica (durante a relação sexual e/ou a masturbação solitária) de mulheres pós-menopausadas, saudáveis e sem tratamento hormonal com fatores climatéricos, psicossociais, comportamentais, hormonais e interpessoais.
O interesse em estudar e pesquisar a sexualidade na pós-menopausa vem-se intensificando devido à maior incidência de disfunções sexuais nesta fase da vida, ao aumento da expectativa de vida e à predominância de mulheres na população. Os autores do artigo chamam a atenção para a concordância de vários outros estudiosos com a ideia de que há um declínio da atividade sexual na pós-menopausa bem como correlacionam esse fato com a deficiência hormonal. O coito desconfortável ou doloroso e as eventuais contrações uterinas dolorosas durante o orgasmo levam algumas mulheres a evitar, sempre que possível, a experiência sexual.
Os autores buscaram referências na literatura atual e na do início dos estudos da sexualidade por brasileiros e estrangeiros. Também fizeram comparação de pesquisas.
De um total de 999 mulheres avaliadas com idade entre 41 e 60 anos, foram selecionadas 60 saudáveis, sexualmente ativas, com pelo menos um ano de amenorreia, útero íntegro, relacionamento estável com parceiro capacitado ao coito e não usuárias de terapia hormonal. Mulheres que apresentavam doenças sistêmicas, doenças psiquiátricas, endócrinas, distopias genitais e usuárias de medicamentos que interfiram na sexualidade foram excluídas. Elaborou-se um modelo estatístico de regressão logística que avaliou a capacidade de orgasmo (variável dependente) em função de 17 variáveis independentes, que representavam fatores psicossociais, comportamentais, interpessoais, climatéricos e hormonais.
O estudo foi realizado no Ambulatório de Ginecologia Endócrina e Climatério da Clínica Ginecológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Para o estudo, foram coletados dados de anamnese, exame físico, entrevistas livres, questionários e inventários distribuídos em três visitas.
Esses instrumentos se propuseram a avaliar a capacidade orgástica, fatores sociais, fatores comportamentais específicos e relacionados com a atividade sexual da entrevistada desde o início de suas atividades sexuais, incluindo na investigação a prática da masturbação.
Também foram pesquisados fatores psicológicos e interpessoais como a autoestima, prazer no contato físico com o parceiro sexual e o grau de envolvimento amoroso com o parceiro sexual. Os instrumentos de avaliação também focaram os parâmetros climatéricos como o tempo de menopausa, sintomas climatéricos e secura vaginal. Para a avaliação do fator hormonal, foram feitas dosagens de testosterona.
Os autores consideraram a escolha da população de mulheres pós-menopausadas ideal para o estudo da influência de diferentes variáveis no exercício da sexualidade; escolheram criteriosamente os recursos para fazer as medidas relativas à frequência de orgasmos; e compararam as prevalências de disfunções sexuais femininas com estudos realizados nos Estados Unidos da América.
Chama a atenção a comparação entre mulheres anorgásmicas brasileiras e americanas. Estudos brasileiros apontam 35% de mulheres com anorgasmia enquanto estudos americanos mostram um número menor, 25% de mulheres com a mesma disfunção.
É forçoso reconhecer, como fizeram os autores, que a ausência total ou parcial de orgasmos na atividade sexual não é elemento suficiente para diagnóstico de disfunção sexual. Ora, de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID 10), a disfunção sexual é definida como “os vários modos em que um indivíduo é incapaz de participar de uma relação sexual como ele/ela gostaria”. Assim, baseando-se em dados de experiência clínica, verifica-se ser necessário o sofrimento pessoal como um critério-chave para caracterizar a disfunção sexual.
O estudo de Penteado et al sobre a sexualidade feminina é inédito, com material jamais estudado, e revela características importantes de mulheres na pós-menopausa que apresentam equivalência entre a frequência sexual e a frequência orgástica. De acordo com as análises estatísticas, as mulheres que obtêm essa equivalência são aquelas que praticam masturbação, gostam de abraçar e acariciar o corpo do parceiro e apresentam secura vaginal.
Verificou-se, portanto, que a capacidade orgástica está significativamente correlacionada à prática da masturbação, ao gostar de abraçar e acariciar o corpo do parceiro e à presença de secura vaginal.
O estudo concluiu que, nas mulheres pós-menopausadas avaliadas, a capacidade orgástica relacionou-se positivamente com o relacionamento mais afetivo com o companheiro e com a prática da masturbação. Mulheres que apresentaram secura vaginal mas que praticavam a masturbação e mantinham relacionamento afetivo com o parceiro conseguiam obter o mesmo número ou um número maior de orgasmos, se comparados com a frequência do coito.