Novembro Azul
O Novembro Azul é uma campanha em prol da saúde dos homens. Durante todo o mês, a campanha foca nossa atenção para a conscientização e prevenção ao câncer de próstata. O objetivo é quebrar o tabu em relação ao exame, uma vez que, um diagnóstico precoce é fundamental para o sucesso do tratamento. O movimento surgiu na Austrália, em 2003. No Brasil, o novembro Azul foi criado pelo Instituto Lado a Lado pela Vida, com a intenção de quebrar o preconceito masculino de ir ao médico e, quando necessário, fazer o exame de toque. Para falar sobre os aspectos emocionais da doença vamos conversar com a sexóloga Sônia Eustáquia Fonseca.
Novembro Azul e a Saúde Emocional do Homem
1 – Essas campanhas de incentivo a prevenção de doenças, como a que terminamos agora, o “Outubro Rosa”, conseguem o seu objetivo? Há muita adesão da sociedade de maneira geral?
Sim, elas conseguem levar muitas pessoas aos consultórios médicos para exames preventivos. Ora é o próprio adulto que procura e ora são os filhos e a esposas que incentivam. Não temos ainda uma estatística precisa, mas as evidencias nos consultórios de urologistas e proctologistas apontam para esse aumento de procura para a prevenção. O Instituto Lado a lado pela vida realizou em 2015 cerca de três mil ações em todo o Brasil, com a iluminação de pontos turísticos como Cristo Redentor, Congresso Nacional, Teatro Amazonas, Monumento às Bandeiras e conseguiu também adesão de celebridades como o Zico, Emerson Fittipaldi, Rubens Barrichello etc. Fizeram ativações em estádios de futebol, corridas de rua e autódromos, além de palestras informativas, intervenções em eventos populares e pedágios nas estradas.
2 – A campanha também existe em outros países?
Em vários países, o Novembro Azul é mais do que uma simples campanha de conscientização. Há reuniões entre os homens com o cultivo de bigodes, símbolo da campanha, onde são debatidas, além do câncer de próstata, outras doenças nos genitais, a depressão masculina, o cultivo da saúde do homem, entre outros.
3 – O impacto psicológico do câncer de próstata é reconhecido pelos profissionais da saúde, como os médicos? O número de encaminhamentos para apoio psicológico tende a aumentar?
O aumento do número de diagnósticos desse tipo de câncer no Brasil e no mundo é visível e é comum a notícia do diagnóstico trazer para o paciente um conflito emocional muito grande. Por esse motivo, o médico solicita acompanhamento psicológico ou já trabalha em equipe multidisciplinar. Quando o tratamento é realizado junto com um acompanhamento psicológico o paciente fica muito melhor.
Novembro Azul e os impactos emocionais no homem
4 – O Instituto Nacional de Câncer (INCA), tem uma estatística do número de casos ?
São esperados para 2016 mais de 60 mil novos casos de câncer de próstata, sendo este tipo o segundo mais frequente entre homens no Brasil. O câncer de próstata é a segunda causa de morte em muitos países.
5 – Quais são os principais sintomas emocionais de um homem que recebe um diagnóstico de câncer de próstata?
O diagnóstico de câncer de próstata desperta medo e insegurança, uma vez que esse diagnóstico se relaciona com a disseminação da doença para outras partes do corpo, o que poderia levar a morte. Como também implica na necessidade de mudança no comportamento sexual. O medo da disfunção sexual, ou seja, da impotência, seja essa transitória ou permanente ameaça a autoestima dos homens com esse diagnóstico, fragilizando-os podendo levá-los à depressão, a ansiedade, a tristeza e a irritabilidade.
6 – É comum um diagnóstico de câncer em qualquer lugar do corpo, despertar o medo da morte na pessoa acometida por ele. Você vê alguma característica diferente desse medo, principalmente no homem com diagnóstico de câncer de próstata?
Está estabelecido socioculturalmente que a essência da virilidade no homem é a ereção, bem como seu desempenho sexual. Isso tem gerado na população masculina diagnosticada com câncer, o fantasma da impotência sexual e consequentemente uma diminuição da autoestima; podendo levar inclusive a quadros depressivos e ansiosos.
A exigência de construir uma nova forma de funcionamento sexual diferente daquele tradicionalmente aprendido, que implica em poder, iniciativa e capacidade erétil, é extremamente ameaçadora, mesmo que o fato de estar vivo seja o mais importante. O impacto psicológico pode ser explicado pelo fato dos homens, em geral, darem maior destaque à sua atividade sexual do que a outras atividades realizadas na sociedade, que poderiam também proporcionar autoestima, poder, reconhecimento e prazer.
7 – A parceira é importante durante o processo de diagnóstico e tratamento?
Sim, muito importante. Ela vai ajudá-lo a desenvolver outra maneira de se sentir masculino, algo que contemple a associação entre sexo e afeto num relacionamento que envolva a comunicação e a confiança. Ela também, pode leva-lo a acreditar que é uma pessoa essencial e que isso é independente da sua capacidade viril. É fundamental que os homens diagnosticados com câncer de próstata acreditem na possibilidade real de vivenciar uma nova forma de relacionamento sexual saudável, capaz de proporcionar muito prazer.
8 – A desinformação é muito grande entre os homens? Porque eles temem tanto o exame preventivo?
Ainda é muito difícil para o homem aceitar com naturalidade que uma outra pessoa vá tocá-lo em região do corpo tão íntima. É um pré-conceito que deve ser abolido. Um mito que deve ser vencido. Há um grande temor entre os homens da perda de sua identidade masculina e da própria vida. Poucos pacientes têm informações sobre os recursos para tratar o câncer de próstata e as sequelas decorrentes do próprio tratamento, como eventuais problemas na função erétil.
Além dos aspectos informativos, qualquer abordagem sobre saúde masculina e câncer de próstata deve considerar questões de gênero, ou seja, as representações do masculino constitutivas da identidade masculina. O câncer de próstata é a quarta causa de morte de homens com mais de 50 anos no Brasil. Isso se deve ao fato de muitas pessoas não buscarem diagnóstico, inclusive por receio de se submeter ao exame de toque.
9 – O que o acompanhamento psicológico pode fazer de efetivo nesses casos?
São muitos fatores que podem ser investigados e trabalhados no tratamento psicológico acerca da sexualidade desses pacientes. Cada indivíduo é único e irá encarar a situação de uma determinada forma; por isso o trabalho do psicólogo é específico e singular com cada paciente. O tratamento envolvendo equipe multidisciplinar possibilita uma melhora mais rápida e aumenta as chances de cura.
10 – É comum o casal entrar em conflito frente a situação do diagnóstico e tratamento? O que a terapia de casal pode fazer?
Há que se conscientizar de que a disfunção sexual tende a ser momentânea e reversível. A tristeza, a ansiedade ou de modo geral, a desestruturação do aspecto psíquico é que pode acabar desencadeando ou contribuindo para o agravamento de uma possível disfunção erétil; às vezes muito mais do que a própria doença em si. Por isso, é tão fundamental que os pacientes recebam um tratamento multidisciplinar; onde todos os aspectos são considerados, os físicos, emocionais, familiares e até mesmo culturais. A falta de acompanhamento ou tratamento é que de fato podem interferir na vida sexual. Em estágio inicial os resultados são ainda mais otimistas, por isso é primordial que os homens façam regularmente os exames.
O diagnóstico leva a um sofrimento emocional, com dificuldades para manter relacionamento afetivo e sexual, vida profissional e outras atividades cotidianas. Há um grande temor entre os homens da perda de sua identidade masculina e da própria vida. Poucos pacientes tem informações sobre os recursos para tratar o câncer de próstata e as sequelas decorrentes do próprio tratamento, como eventuais problemas na função erétil.
11 – Existe uma faixa etária onde é mais comum o diagnóstico de câncer na próstata? E qual é a previsão do número de casos para esse ano?
É considerado um câncer da terceira idade. Três quartos dos casos ocorrem em homens com mais de 65 anos. A estimativa do INCA para esse ano de 2016 é de que ocorrerá 61.200 casos novos. Depois do câncer de pele o da próstata é o mais comum em todo o Brasil.
12 – Quando a cirurgia se faz necessária, há alguma mudança na sexualidade do homem?
Nos casos em que a cirurgia se faz necessária, a ejaculação é algo escasso, pois as vesículas de sêmen que a produzem são removidas, mas o orgasmo não é comprometido. Essa recuperação da atividade sexual é um fator muito importante na vida dos pacientes acometidos pelo câncer de próstata. Todos os profissionais envolvidos devem auxiliar o paciente à compreender as modificações que forem causadas e também prepará-lo à lidar com o assunto de modo saudável.
13 – O que o homem pode fazer, desde bem cedo em sua vida, para se prevenir? gostaria que você citasse algumas condutas bem brevemente.
A próstata é uma glândula masculina localizada na parte baixa do abdômen. Tem a forma de maçã e situa-se logo abaixo da bexiga e à frente do reto. A próstata envolve a porção inicial da uretra, tubo pelo qual a urina armazenada na bexiga é eliminada.
Uma dieta rica em frutas, verduras, legumes, grãos e cereais integrais e com menos gordura, principalmente as de origem animal, ajuda a diminuir o risco do câncer. Especialistas recomendam pelo menos 30 minutos diários de atividade física, manter o peso adequado à altura, diminuir o consumo de álcool e não fumar.
Homens a partir dos 50 anos devem procurar um posto de saúde para realizar exames de rotina. Os sintomas mais comuns do tumor são a dificuldade de urinar, frequência urinária alterada ou diminuição da força do jato da urina, dentre outros. Quem tem histórico familiar da doença deve avisar o médico, que indicará os exames necessários.
O toque retal é o teste mais utilizado, apesar de suas limitações: somente a porção posterior e lateral da próstata pode ser palpada. É recomendável fazer o exame PSA (antígeno prostático específico, na sigla em inglês), que pode identificar o aumento de uma proteína produzida pela próstata, o que seria um indício da doença.
Para um diagnóstico preciso, é necessário analisar parte do tecido da glândula, obtida pela biópsia da próstata.
Caso a doença seja comprovada, o médico pode indicar radioterapia, cirurgia ou até tratamento hormonal. Para doença metastática (quando o tumor original já se espalhou para outras partes do corpo), o tratamento escolhido é a terapia hormonal. A escolha do tratamento mais adequado deve ser individualizada e definida após médico e paciente discutirem os riscos e benefícios de cada um.
Rede pública
A Política Nacional de Atenção Oncológica garante o atendimento integral a todos aqueles diagnosticados com câncer, por meio das Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) e dos Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon).
Todos os estados brasileiros têm pelo menos um hospital habilitado em oncologia, onde o paciente de câncer encontrará desde um exame até cirurgias mais complexas.
Mas para ser atendido nessas unidades e centros é necessário ter um diagnóstico já confirmado de câncer por laudo de biópsia ou punção.