Hoje existe certa desorientação dos pais em relação aos papéis familiares e principalmente o da autoridade que devem desempenhar com os seus filhos.
Essa nova geração, se comparada às passadas, apresenta uma mudança radical e significativa na posição de pais quanto à colocação dos limites e das regras disciplinares em seus filhos.
Antes se seguia uma direção vertical, na qual os pais exerciam sua autoridade de cima para baixo sem maiores questionamentos; a partir do final dos anos 60, talvez incomodada pelo autoritarismo anterior, ao assumirem o lugar de pais, essas pessoas agiram no extremo oposto, optando por muita permissividade.
A falta de limites tem consequências negativas para a criança e o seu desenvolvimento.
A ausência de limites leva a criança a não aceitar regras – para jogar um jogo, para andar no ônibus, para se comportar na escola, etc. – e a ter dificuldades para conviver com os outros.
Na incansável luta para impor limites, muitas vezes os pais desperdiçam mais energia do que deviam. Podemos separar aquilo que apenas cansa daquilo que dá certo na hora de educar os filhos.
Há boas e eficazes condutas que podemos adotar com os filhos para educá-los e outras que às vezes abraçamos e que simplesmente não ajudam. Quando você evita explicar muito, avisar muito, adular, subornar, ameaçar e punir, você poupa tempo e energia e mantém a sua dignidade como pai ou mãe.
Quando você pede, diz e deixa a distância emocional fazer o trabalho, suas crianças rapidamente aprenderão que quando você pede que eles façam algo ou que parem de fazer algo, eles não têm alternativa a não ser fazê-lo.
Reconhecer e evitar estratégias exaustivas e inúteis torna os pais mais convincentes em suas ordens ou instruções. Existem atitudes menos efetivas na hora de impor limites e outras que garantem êxito. Por exemplo:
1. Não se explique demais.
Quando pedimos para uma criança fazer algo ou para parar de fazê-lo, nosso hábito é de seguir com uma grande explicação sobre o motivo do pedido.
Se nossos filhos não respondem à primeira explicação, pensamos que ela não teve apelo para eles (ou que eles apenas não a entenderam) e, então, gastamos tempo e energia em tentar convencêlos novamente.
Se a criança não entendeu porque está sendo solicitada a fazer ou deixar de fazer algo, dificilmente ela será convencida por mais e mais explicações. O que ela precisa entender é que tudo o que você pede é para o bem dela – e assim será até ela crescer.
2. Não dê mais de um aviso.
Ao dar várias chances e avisos, nós mostramos às crianças que não acreditamos naquilo que dizemos e que não esperamos uma ação efetiva até darmos muitos e muitos avisos.
A maioria das crianças entende que enquanto os pais estão nesse “modo de aviso”, nada irá acontecer com elas. Portanto, seja firme.
3. Não adule.
Você se pega usando frases como “se você arrumar seu quarto, ganha um chocolate” ou “faça toda a lição e te dou um brinquedo” com frequência? Pense melhor.
Quando os adultos se esforçam adulando e coagindo as crianças para que elas façam o que devem, isso significa que só os pais estão fazendo o trabalho duro, enquanto os filhos esperam uma recompensa convincente o bastante para encorajá-los a começar uma tarefa que não é mais que obrigação deles.
4. Não suborne.
As crianças devem ser acostumadas a agir dentro de um senso de obrigação. Se o único jeito de conseguirmos fazer com que as crianças façam o que mandamos é oferecendo algo, nos deixamos vulneráveis a ter que pensar em maiores e melhores “mimos” com o tempo. Além disso, essa ação dá às nossas crianças a permissão de perguntar: o que você me dará se eu fizer isso? – e esse não é um bom hábito para se encorajar uma criança a obedecer.
5. Não ameace.
Ameaça é quando você diz: “se você não fizer isso, então eu irei…”. Assim que você abre um contrato, você dá margem para a criança negar a oferta.
Aprendi essa lição muito cedo com a minha primeira filha. Quando dizia “Monica, se você não guardar seus brinquedos agora, não iremos dar volta de carro mais tarde”, ele apenas respondia “tudo bem”. E eu ficava sem saber para onde ir.
Outro problema em ameaçar é que, se você fala que irá fazer algo, é obrigado a cumprir isso. A maioria das ameaças que tem como objetivo persuadir a criança a fazer o que foi pedido nos pune mais do que a elas.
6. Não puna.
Algumas crianças aprendem através das punições, mas muitas se tornam ressentidas, irritadas e se sentem tratadas de forma desleal. Também, se usarmos a punição, nossos filhos podem simplesmente aprender como aguentá-las e voltarem a fazer aquilo que tentamos evitar. Também podem se sentir redimidos.
Mas se os pais deixarem de explicar, avisar, adular, subornar, ameaçar e punir, o que eles podem fazer? Eu sugiro uma estratégia simples, com três passos: peça, diga e aja.
7. Peça uma vez só.
Peça o que deve ser feito e observe a resposta do filho. Isso dará a ele uma informação importante. Quando as crianças se negam a fazer o que foi pedido, eles usualmente expressam uma das três formas a seguir: tristeza, irritação ou distanciamento.
A tristeza é simbolizada por chateação. Eles parecem ofendidos e dizem: “por que eu?”.
A irritação se manifesta em confronto: eles discutem e acusam você de ser injusto com eles. O distanciamento é caracterizado por indiferença. Eles ignoravam você, olham para outro lado e continuam o que estão fazendo. Tudo isso significa que a criança não fará aquilo que pediu. Mas como reagir?
8. Diga de maneira enérgica.
Vá até o seu filho. Isso pode ser um pouco difícil para os pais, pois significa que eles terão que parar aquilo que estavam fazendo, levantar e ficar do lado da criança.
A presença próxima vale a pena. Uma vez que aparecemos perto da criança, ela sabe que isso significa que ela terá que fazer o que foi pedido.
Eu recomendo que os pais falem baixo e que olhem o filho nos olhos. Isso mostra que eles estão no controle tanto da própria voz quanto da criança.
9. Aja.
Se seu filho não respondeu a nenhuma das ações anteriores, você precisa fazer algo. A coisa mais efetiva que você pode fazer é usar a “distância emocional” ou “retirada do afeto”, até que ele esteja pronto para fazer o que foi pedido.
Pegue-o no colo ou pela mão e o leve para o quarto. Diga firmemente: “você é bem-vindo para se juntar à família assim que estiver pronto para fazer o que pedi”, e deixe-o sozinho. Lembre-se: o seu filho tem o poder de se reunir à família ao fazer o que lhe foi pedido.
Quando as crianças são maiores e retirá-las do lugar é mais difícil, eu recomendo que os pais apenas determinem consigo mesmos: “eu não farei nada até que ele esteja pronto para fazer aquilo que eu pedi”. E continuem com o que estiverem fazendo, normalmente.
Quando a criança aparecer com um pedido, você pode calmamente lembrá-la de que ficaria feliz em atendê-la assim que ela fizer aquilo que foi estabelecido (e ignorado) anteriormente.
Ele pode fazer duas ou três tentativas para chamar sua atenção, mas vai acabar entendendo que precisa fazer o que foi solicitado pelos pais.
Conclusão:
Os limites ajudam a criança a tolerar frustrações e aprender a lidar com o sistema de recompensa do aparelho psíquico. Elas amadurecem quando aprendem a adiar o prazer.
É bom para ser feliz apreender a esperar sua vez bem como a compreender que existem outros e que precisa compartilhar. A insuficiência de limites pode conduzir a uma desorientação, a uma falta de noção dos outros, de respeito, e pode até conduzir esses “futuros adultos” à criminalidade em casos extremos.
Sônia Eustáquia Fonseca – 14 de outubro de 2015
(Síntese comentada do livro: “É claro que eu amo você… Agora vá para o seu quarto!” da autora Diane Levy – Editora Fundamento).