Muitas pessoas me abordam com perguntas de natureza diversa: querem respostas para suas dúvidas, sofrimentos e conflitos. Por eu ser psicóloga e sexóloga, é natural que a questão esteja relacionada com as emoções, os sentimentos. São perguntas sobre relacionamentos, conflitos familiares, educação dos filhos e sexualidade, porque são sobre esses temas que normalmente sou convidada para palestras, debates e entrevistas. Entretanto, nesse artigo vou tratar da sexualidade e do uso indiscriminado de recursos farmacológicos — principalmente por parte de jovens — para obter ereção.
Desde que o mundo é mundo, seres humanos e animais são dotados de corpos sexuados, e as práticas sexuais obedecem a regras, exigências naturais e certos rituais. A experiência sexual é singular, pois cada um de nós a vive de forma única e subjetiva. Talvez essa seja a principal dificuldade da proposta clínica frente às disfunções e às outras demandas que surgem nos consultórios.
Às vezes, em um único casal, vamos da repressão acentuada à conduta perversa. Um dos parceiros, tímido, infeliz, coagido e com medo de perder; enquanto o outro, em posição de superioridade se coloca como “o tal”, o forte, o poderoso da situação, sem saber o limite do saudável e do perverso, sem conhecer e sem se permitir o prazer da transcendência. O reprimido se submete e consequentemente vivencia um conflito.
É comum as pessoas, principalmente as mulheres, não gostarem de falar de sua intimidade sexual, de sua ignorância e fraqueza, transformando o falar sobre sexo em discurso tímido e marcado por referências técnicas ou familiares. Enquanto isso, alguns homens falam sobre suas façanhas e conquistas, justamente por ser muito difícil falar de suas fraquezas.
Dentro desse contexto, surgiu, para homens, um elemento novo nessa última década: a possibilidade de se tornar maior e mais forte para as conquistas através de novas tecnologias ofertadas pela farmacologia. Trata-se de um mercado solto e livre de controles, que não passa pela preocupação da saúde real do homem. Atualmente com venda livre, esses poderosos comprimidos para ereção passaram a ser consumidos inclusive por jovens e adolescentes. Mesmo reconhecendo o avanço científico e seus benefícios em casos realmente necessários, observo que, na busca insensata do máximo, o homem procura — foram de seu corpo e de sua mente —, através de um comprimento, o desafio do poder, do máximo de ser homem, no máximo de relações sexuais genitais que pode ter.
Num País em desenvolvimento como o nosso, considerando os altos preços desses produtos, sermos um dos maiores consumidores do mundo me deixa muito preocupada. Estarão os homens priorizando as relações sexuais genitais às outras aquisições e compromissos financeiros? Estarão priorizando a genitalidade à sexualidade amorosa e afetiva?
Se um dos lados está vestido com a roupagem do poder de fazer uma ereção e de mudar o desempenho natural do homem, o outro está nu e ansioso, trazendo consigo a solidão por não querer falar de si, de suas crenças e valores. Esconder, camuflar a realidade, o passado, a infância, suas emoções e vivências pode parecer à primeira vista a melhor solução. Uma solução mágica me parece desonesta e inútil. Imprimir modelos e parâmetros para a experiência sexual induz a expectativas predeterminadas: uns duram 36 horas, outros 6, outros 4. Qual modelo você deseja? Qual o parâmetro lhe cabe melhor? Tudo alheio a sua vivência ou a suas emoções. O que há de fato é algo inédito e fascinante. Um caminho a ser inventado e reinventado a cada vez que se faz amor ou uma relação sexual.
Até pouco tempo atrás, os papéis sociais — e naturalmente os sexuais reservados aos homens e mulheres — pareciam definidos de forma clara e estáveis. A eles cabiam seduzir, excitar e ser responsáveis pelos jogos eróticos; a elas, aceitar a sedução e, muitas vezes, apenas ficar à mercê disso, sem o envolvimento ou responsabilidade pelo sucesso orgástico da relação. Hoje, principalmente com o novo poder que está ao alcance do homem, alterou-se sobremaneira a responsabilidade da mulher numa relação sexual. Elas passaram a se preocupar também com o seu desempenho.
Creio ser este o ponto positivo desta evolução farmacológica: o medo de não corresponder não pode encontrar outro modo de ser vivenciado a não ser pelo uso da coragem de assumir o próprio medo. Isso ocorre naturalmente — com humildade de reconhecer que a intimidade que cada encontro pode proporcionar —, fazendo desaparecer o medo e gerando assim o mais belo dos encontros feito pelo Criador: o amor.