O Divórcio de pessoas famosas e populares sempre traz um burburinho nas redes sociais. O casal mais famoso de Nova York, Angelina Jolie e Brad Pitt e aqui no Brasil outros casais populares são exemplos disso atualmente. De certa forma as pessoas se mostram frustradas, decepcionadas mesmo, com essas separações.
Afinal, será que nunca vai existir um casamento perfeito? Será que a paixão tem um fim ou é a paciência que se esgota muito rápido? Casamento tem prazo de validade? Para falar sobre o assunto eu converso agora com a sexóloga Sônia Eustáquia Fonseca.
1 – Porque a separação desses casais populares choca tanta gente?
É normal acontecer uma identificação coletiva nas pessoas e eventos que representam um ideal e que está no imaginário dos humanos de maneira geral. Quando eu vejo algo que eu idealizo para mim, sendo realizado por outras pessoas populares e famosas eu me projeto como sendo um exemplo de realização possível. Quando essa realização do meu ideal no outro é interrompida eu me sinto frustrada e triste.
2 – Celebridades, artistas e políticos influenciam o comportamento das pessoas em todo o mundo; um divórcio assim pode levar pessoas a se divorciarem também?
Eu acho que toda pessoa pública e popular é capaz de produzir seguidores e isso pode acontecer até em eventos muito ruins, e é por isso que não se divulga suicídios. Creio que poderá encorajar alguém que já queria se separar e na ocasião toma a decisão final, entretanto, não creio que influencia tanto assim, para que uma pessoa que viva bem queira se divorciar.
3 – Porque as pessoas se separam, se casaram para viver juntas para sempre e preferencialmente felizes? O que leva um casal comum ou famoso buscar a separação?
Na realidade as pessoas se casam para viverem felizes para sempre, porém não contam com as mudanças que terão que fazer em suas vidas pessoais, anteriormente vividas de maneira absolutamente individuais ou quando muito, compartilhada com a família de origem. A primeira coisa que acontece é um estranhamento nesse “compartilhar” sempre… viver dois em um em quase tudo no dia a dia. Uma outra dificuldade que pode aparecer é relacionada ao sexo, que anteriormente era maravilhoso, vivido em finais de semana e em clima de romantismo, animação, festividade, fantasias e pós casamento enfrenta uma rotina madura e menos fantástica. Existem outros fatores pertinentes a vida e que têm que ser vividos.
4 – Porque alguns casais insistem em viver juntos, mesmo estando infelizes?
Existem mil razões práticas e afetivas para continuar um casamento como por exemplo, os filhos, a administração de bens que foram formando juntos dentre outros. Mas, eu acho que a pessoa tem que optar em ser feliz na medida certa. E se o casamento estiver intervindo nessa alegria básica, ela deve se separar. Sempre é bom estar bem maduro e responsável para tomar essa decisão.
5 – O que acontece com a relação de um homem e uma mulher ao longo dos anos de convivência?
Existe um desgaste natural nas relações independentemente de ser a relação do casamento. Geralmente idealizamos uma pessoa e nos apaixonamos por essa ideia, chamamos a isso de amor de transferência. O conflito é justamente a desidealização e o esmaecimento do vigor do desejo sexual, urgente e apaixonado bem como do enamoramento. O que o casal as vezes resiste em entender é que resta a amizade, o sentimento de intimidade e cumplicidade que construíram juntos durante anos. O casamento normalmente ocorre quando duas pessoas se amam e estão dispostas a dividir o mesmo teto, sabendo que somar alegrias e dividir problemas será o caminho para a felicidade e sem prazo de validade para terminar. Geralmente o término do casamento está “associado” ao fim da afeição e do amor ou do desejo sexual. Aí podemos perguntar: por que a afeição e o amor chegam ao fim? É sempre por responsabilidade de um ou dos dois? O que cabe é uma reflexão enquanto se está casado para que o desejo sexual a afeição e o amor se solidifiquem. Casamento não é algo para ser desfeito antes de serem feitas TODAS as tentativas para continuar. É a minha opinião.
6 – O que houve com a paixão, que um dia os fizeram jurar amor e fidelidade até que a morte os separasse?
A paixão é um sentimento que costumamos chamar de “estado narcísico”. É quando a pessoa não consegue ver mais nada além daquilo. É impossível sobreviver com produtividade profissional, intelectual, familiar se esse estado de narcisismo durar muito tempo. A paixão tem que evoluir para o Amor para o bem de todos. O amor é sereno, calmo, produtivo. É um estado normal, bom e sereno de viver. Caso o relacionamento do casal ainda não tenha evoluído para o amor, está fadado ao fracasso. Sobreviver a essas mudanças é o que sinaliza a maturidade do casal.
07 – O que acaba: o desejo sexual, a vontade de manter a fidelidade, a amizade?
Pode acontecer crises ou mesmo o término em cada um desses itens que você citou ou pode ser de todas juntas ou de uma delas. É comum a perda de parceria e amizade ter mais peso do que a perda do desejo sexual. Eu percebo também que a perda da fidelidade motiva mais separações do que as outras.
08 – O ciúme também pode ser um motivo de separação?
Claro que sim. A insegurança a baixa autoestima dentre outros sentimentos motiva bastante as separações. O ciúme gera desconfiança e atitudes embaraçosas que podem culminar em separação.
09 – Qual a consequência da separação para os filhos? Quando um casal vive muito mal e briga sempre é melhor separar? Ficar juntos nessa condição pode trazer consequências para os filhos? Quais seriam?
A consequência mais importante da separação a ser observada e cuidada é em relação aos filhos. A criança sempre pensa ou fantasia que a separação se deu por sua causa. As noções de censura e culpa, que acompanha qualquer criança mentalmente saudável, são acionadas nessas ocasiões. Mesmo, isso não sendo realidade a criança sofre muito. Esse sofrimento e confusão mental podem atrapalhar o desempenho escolar, o relacionamento interpessoal dentre outros problemas que envolvem o corpo, como as doenças psicossomáticas e regressões. É comum as crianças voltarem a fazer xixi na cama, gaguejarem, terem febres sem razão biológica nenhuma.
10 – Nos consultórios tem aumentado a demanda de casais que buscam a terapia para se reconciliar ou mesmo entender o que está se passando em seus casamentos?
Tem aumentado bastante e atualmente os casais sabem que podem receber ajuda profissional sem nenhum constrangimento. Ter um terapeuta com um “distanciamento saudável” do problema, para escutar e propor novas condutas é muito bom. É um investimento para o casamento.
11 – Os casais antigos não precisavam de terapia e se aconselhavam com os próprios pais, com os padres ou pastores e iam levando o casamento, porque isso mudou?
Os profissionais são neutros quanto ao problema relatado. Eles trabalham com uma ética específica que os pais por muito hábeis que sejam não vão conseguir. Geralmente eles tomam partido por se sentirem emocionados. Quanto aos padres e médicos que também eram muito procurados, hoje estão muito ocupados para uma escuta que geralmente é demorada.
12 – Quais as dicas para um casal em crise, considerando principalmente que preferem ficar juntos apesar dos conflitos?
Procurar ajuda profissional para que a relação reinicie sob novos paradigmas. Não expor os problemas a terceiros ou pessoas que não poderão ajudar de forma eficiente. Não brigar e nem implicar um com o outro, com os filhos perto.
Entrevista concedida à Rádio Inconfidência, dia 27/09/2016
Revista da Tarde – Quadro Amor e Sexo