Ele ou ela quer “um tempo” – Isso vale a pena? A maioria de homens e mulheres concorda em dizer que não; não vale a pena dar “um tempo” para pensar no relacionamento. Quando esse tipo de questionamento acontece pode ser porque a vontade de se separar, ou de explorar novas oportunidades e pessoas, é mais forte, porém falta coragem de simplesmente terminar e perceber depois que perdeu a pessoa amada.
Para a sexóloga e psicóloga Sônia Eustáquia o tal tempo, para pensar, pode ser visto como uma desculpa para poder conhecer outras pessoas sem a cobrança da fidelidade. Esse tempo pode representar também o adiamento de uma decisão mais complicada como o término definitivo do namoro ou casamento. É ter medo de tomar uma decisão precipitada. Teoricamente, trata-se de um acordo verbal que coloca um namoro em banho-maria. Na prática, porém, não fica muito claro entre as partes como proceder. O tempo de espera, a distância preservada e as atividades extracurriculares ficam em um terreno nebuloso, ocultadas nas entrelinhas do contrato. Em sua opinião abre-se um precedente para muitos mal-entendidos.
A melhor maneira para resolver a questão quando ela surge é a transparência, que é a base para qualquer relacionamento normal. Se relacionar com alguém é um ato de amor, de entrega de conhecimento próprio e do outro, e além de tudo isso, precisa existir uma vontade mútua de estar junto. Se por algum motivo isso não acontece mais, a melhor ação é sentar e conversar abertamente sobre o assunto. E a partir da conversa ver o rumo que vai dar ao relacionamento.
O medo de terminar um relacionamento existe sempre, já que fazer escolhas é muito difícil em quaisquer circunstâncias. Envolve perder uma coisa para ganhar outra; e às vezes as pessoas não tem certeza se dão conta de perder para ganhar. Assumir riscos faz parte de qualquer relacionamento. As pessoas não têm e nem podem dar garantia total de que dar o tempo vai dar certo, e nem que esse tempo, realmente é saudável.
Às vezes uma pausa pode fazer muito bem para o relacionamento. Dependendo do tempo de relação ou da maturidade do casal, um pouco de distância pode servir como um momento de balanço, de questionamento. E isso sempre é saudável.
Às vezes pedir um tempo pode ser um sinal de que algo não vai bem à relação ou com a pessoa (medo de se envolver, de assumir um compromisso…). O mau uso de ‘pedir um tempo’ é quando um dos dois quer terminar, porém não tem coragem de falar ou de enfrentar o companheiro ou companheira. É uma desculpa do tipo “o gato subiu no telhado…”. Além de não ser sincera, pode magoar muito mais o outro, aquele que fica esperando esse tempo.
Quando se da “um tempo”, dificilmente ocorre uma volta, no relacionamento, nos casos em que uma das partes tem algum tipo de dúvida, ela precisa de coragem para se afastar e ouvir sua voz interior: eu estou feliz? Sinto falta ou saudade dele (a)? Consigo conviver com seus defeitos? Ouvindo as respostas internas, pode acontecer que volte. Certa vez entendi um casal que namorava há alguns anos, e pensava em se casar, mas ele resolveu que antes disso iria morar fora para estudar. Ela não gostou da ideia e preferiu terminar o namoro antes dele partir. Ficaram nove meses separados, e assim que ele voltou, reataram e casaram. Vivem felizes até hoje. Na verdade, não há regra. Se o casal é jovem e não tem ainda muitas experiências, é válido e até desejável que eles experimentem e conheçam melhor seus sentimentos e reações em certas situações. A confusão de sentimentos é natural na juventude e depois da juventude também, vale lembrar.
As dúvidas sobre o outro na relação e consequentemente o pedido de tempo é comum em todas as idades. Porém menos frequente em casamentos já consolidados pelos anos de vida juntos. Vejo casais que já estão juntos há bastante tempo e é frequente que haja certa acomodação. É comum as pessoas deixarem de fazer suas próprias vontades para fazer a vontade do outro, e isso vai deixando a pessoa insatisfeita e às vezes até com muitos ressentimentos. Se o casal tiver maturidade de ‘dar um tempo’ de verdade, refletir e dizer para o outro por que não está feliz, do que sente falta na relação, o que gostaria de fazer, as chances de retomar, com sucesso, a relação ou o casamento são enormes.
Muitas pessoas não se permitem realizar uma série de coisas como estudar, sair com os amigos, viajar, trabalhar no que gostam, e dizem que é porque o outro não deixa; se elas tiverem clareza e honestidade para revelar seus sentimentos, podem se surpreender, e descobrir que, numa relação para valer, cabem outras atividades, amizades, um tempo sozinho para ler, dormir, afinal, para a individualidade.
Pedir um tempo é a forma de fazer o outro perceber que você está em dúvida quanto ao seu próprio sentimento ou que, talvez, já não sabe se vale à pena continuar e mesmo amando a outra pessoa, prefere não correr o risco de terminar e pede o tal tempo. Muita coisa pode acontecer durante este período stand-by. É possível conhecer outras pessoas e fazer comparações com aquela que está no aguardo de uma resposta. Ou então reviver aquela vida de solteiro, cheia de festa e farra, sem cobranças, sem explicações. Se for dessa forma que a pessoa que pediu o tempo encontrou para “refletir”, foi uma escolha dela. Não devemos julgar as formas que alguém procura para avaliar a própria vida amorosa. Cada um sabe da sua própria história. Mas a tendência é um dos dois se machucar. Eu tenho uma opinião: se o que está pedindo tempo, já sabe que não quer mais a outra pessoa, é melhor não ser covarde e não dar falsas esperanças. Deve enfrentar conversar e tomar a decisão. Ou fica e vence juntos os problemas ou termina de vez. Porque buracos em uma relação não serão preenchidos sozinhos, de forma milagrosa, só por terem fugido da responsabilidade por uns dias.
No geral, o cérebro feminino traduz como “fechado para balanço”. Ou seja, hora de congelar o tempo e repensar os desejos e medos de cada um — e como eles se encaixam nos anseios e temores do parceiro. É como se a Bolsa de Valores interrompesse emergencialmente o pregão em um momento de crise, esperando que o mercado reabra em alta pela manhã. Acho que a maioria das mulheres que propõem um intervalo para reflexão, no fundo, torce para que os dois voltem a se entender.
Já na cabeça masculina, quase sempre, a leitura será… “passe livre”! Penso que, quando um homem sugere o tempo ou intervalo num relacionamento, é como se fosse o fim do primeiro tempo de um jogo de futebol, ele não está pensando apenas em descer para o vestiário, ouvir as orientações do treinador e voltar para mais 45 minutos. A ideia é visitar uma realidade paralela na qual ele é solteiro e dar uma analisada e aproveitada no cenário atual. Talvez nem seja especificamente para trair. Pode ser para saciar vontades mais bobas, como lembrar como é ter a cama só para ele de novo. O homem que pede um tempo quase sempre já desistiu do relacionamento, pelo menos naquela hora. Ele acredita mesmo que não vale mais a pena. Só lhe faltam forças e coragem para admitir isso; por isso pede tempo. Ele idealiza a vida que tinha antes de se amarrar com uma garota ou inveja a rotina dos solteiros que conhece. Ao mesmo tempo, tem medo de tomar a decisão errada. Então, parte antes para um test-drive. Se não se sentir confortável caindo na noite mais uma vez, retorna mansinho. As vezes a relação melhora e as vezes vira “versão requentada” do primeiro tempo.