O ciúmes é um tema no qual muitas pessoas procuram ajuda profissional de psicólogos e terapeutas para tratar e compreender. A sexóloga e também psicóloga Sônia Eustáquia respondeu algumas perguntas que podem ajudar, e muito, pessoas ciumentas ou gente que lida com alguém que se encaixa nesse perfil.
1 – Por que a pessoa sente ciúmes?
Geralmente surge quando uma pessoa sente que um rival (real ou imaginário) passa a receber as atenções da pessoa amada. Também pode ser sentido quando há alguma ameaça frente a um relacionamento muito valorizado, e que oferece risco à sua segurança afetiva, ou seja, a possível perda do ser amado.
O ciúme é uma emoção que pode vir acompanhada muitas vezes por sentimentos como o amor e o ódio. Estes sentimentos e emoções precisam ser observados, analisados e trabalhados, já que uma pessoa ciumenta em excesso pode perder o controle de sua situação emocional. Como é inerente ao ser humano pode ocorrer também na relação entre as crianças; quando disputam um brinquedo ou o afeto de alguém. Por ocasião do nascimento de um irmão por exemplo, o foco da atenção dos pais geralmente vai para o ao recém nascido, gerando ciúmes no irmão maior.
Antropologicamente falando, o ciúme é uma emoção humana extremamente comum, antiga e que visava auto proteção das necessidades primárias. Basta-nos pensar que o homem precisava se proteger da traição de sua mulher, para não gastar seus recursos com uma prole que não fosse a sua. Já a preocupação da mulher era, em como manter o estoque de comida, e em quem iria trazê-la. Assim, num pensamento mais evolucionista concluímos que o que provoca ciúmes em homens e mulheres são fatos diferentes. Podemos entender o ciúme, também, como uma criação capaz de proteger os laços sociais.
Do ponto de vista mais psicológico entendemos a causa do ciúme como falta de confiança em si mesmo que se estende até o outro. Geralmente a pessoa ciumenta tem baixa autoestima e de valorização da autoimagem. Sendo assim, o sentimento de inferioridade começa a aparecer, e por causa disso as pessoas ciumentas normalmente se sentem incapazes, se menosprezam e não se vêm merecedoras do prazeres da vida e das boas coisa.
2 – Os ciúmes têm a ver com a criação? Pessoas que foram muito paparicadas pelos pais tendem a ser mais ciumentas?
Na infância, podem ter sido desvalorizadas pelos pais e por isso que não confiavam nelas e também podem vir de famílias que não demonstravam afeto. Para mim, a origem do ciúme está relacionada ao sentimento de inferioridade e de menos valia. Por isso, as situações onde ele aparece já começam na infância. A superproteção dos pais não levam a criança a adquirir segurança e auto estima, ao contrário, pode deixa-las mais inseguras.
3 – A relação dos pais influi no relacionamento da pessoa?
Influi sempre. Porem não se deve culpar ou responsabilizar os pais para sempre. Através de mecanismos de defesa conscientes e inconscientes, as pessoas são capazes de produzir mudanças; e nesse caso específico, à medida que ela vai se curando de suas inseguranças, vai também se curando do ciúmes. Junto vai ficando livre dos sentimentos de inferioridade, da rejeição, dos medos de perdas, da possessão e das culpas. Neste caso, quando a origem do ciúme está relacionada ao sentimento de inferioridade e de menos valia.
4 – É normal a pessoa sentir muito ciúmes num determinado relacionamento e ter segurança em outro?
Pode ser que sim. Mesmo o ciúme sendo de responsabilidade individual, pode ser que um parceiro(a) passe mais segurança do que outro(a). Quando uma pessoa se relaciona com alguém que é um grande exemplo de autoestima, valorização, força de vontade e de conquistas, pode ser que passe para o parceiro a ideia de segurança . E o contrário pode ser verdadeiro também. Pode acontecer que uma decepção por traição, desencadeie a desconfiança em todas as pessoas do mundo, generalizada. A fragilidade em que se encontra uma pessoa pode torna-la pessimista e isso refletir no relacionamento.
5 – Até que ponto o ciúme é gerado pelo perfil do parceiro e até que ponto depende da própria pessoa?
Existe uma máxima: quanto mais segura a pessoa for, menos ciumenta ela se apresenta. Por isso, mesmo que um dos parceiros seja uma pessoa que passe insegurança, o outro parceiro, se for seguro, não sentirá ciúmes. Mas, como não existe ninguém absolutamente segura, o melhor, é fazer um esforço e manter um perfil adequado e blindado a traições para não gerar ciúmes e a relação ficar boa e prazerosa.
6 – É comum ouvirmos das pessoas que o ciúme é coisa de apaixonados e que quando o amor verdadeiro aparece, ele some. O que tem de verdade nisso?
Eu acho que a pessoa apaixonada nem tem tempo para sentir ciúmes. Ela está tão narcisicamente envolvida nesse amor, que nem se preocupa com outra mulher ou outro homem, ou com a traição propriamente dita. Quando se está apaixonado, o que se quer é estar mergulhado e colado no outro. Quando a paixão ganha outro formato, o do amor, por exemplo , o que a pessoa quer, é se sentir importante, amada e desejada pelo outro, e quando isso não acontece, consequentemente, pensará que existe alguém melhor, e ai se instaura o ciúme. Sempre tendo como base, a insegurança.
7 – O ciúme tem cura?
Tem sim, principalmente quando recebe ajuda profissional, e fizer uma boa análise de suas causas e consequências. Geralmente o relacionamento de ciumentos fica muito afetado por causa das possessividades.
8 – O ciúme precisa de tratamento?
Precisa sim. O ciumento precisa sair da obsessão de pensar no que o outro faz, e mudar para o que quero para mim, qual meu dom e quais são minhas metas. Ao pensar nos próprios objetivos, buscando fortalecer os ideais e os projetos pessoais; os pensamentos obsessivos, aos poucos, vão cessando. Claro que eles não vão acabar da noite para o dia ou num piscar de olhos, mas é preciso mudar o hábito de pensar de forma pessimista e ter disciplina com esses objetivos. A ajuda terapêutica pode ajudar na construção de novas ideias e metas bem como, trabalhar as inseguranças pessoais e suas origens.
9 – Como ajudar o seu parceiro (parceira) a ser menos ciumento?
O diálogo franco do casal sobre o assunto é necessário, quando devem refletir sobre o ciúme, os sentimentos de um pelo outro, como melhorar a relação, os perigos do ciúme para a relação e a falta de “sentido” desse sentimento. Propor parar com o pensamento possessivo, aquele em que se procura evidências de traição e morre de medo da perda. É necessário ajudar o parceiro a recuperar o amor-próprio e curar o sentimento de inferioridade. Procurar com ele e apontar as coisas em que é muito bom. Com isso, o casal valoriza o que têm de melhor e por isso merecedores de fidelidade, lealdade e felicidade.
Ajuda-lo a lidar melhor com a rejeição ,e tornar-se uma pessoa capaz de se relacionar com as outras e com o meio onde vive, sentindo-se aceito e aproveitando o melhor dos diferentes momentos.
Apontar sempre as situações onde ele possa melhorar o amor próprio, a autoestima, o gostar mais de si mesmo antes de gostar do outro.
Não abrir mão de amizades e nem renunciar a seus valores e as coisas que lhe davam alegria antes de conhecer seu parceiro.
Manter sua independência psicológica, sua autonomia, sua liberdade e seu direito de dar “sim” e “não”.
Controlar-se, mesmo sentindo ciúmes, evitando atuar com brigas, cenas, agressões.
Não fazer projetos futuros em demasia que dependam do relacionamento. A relação pode não dar certo e a dor será muito maior.
Saber que chorar implorar ou ameaçar seu parceiro não adianta. Se ele tiver que ir a algum lugar ou fazer algo, ele o fará, quer você queira ou não.
Desfazer crenças que, embora generalizadas, são falsas e alimentam o ciúme, como, por exemplo:
•de que o ciúme é prova de amor. Não. Ele é prova de apego, de desrespeito à liberdade do outro, de egocentrismo.
• de que é possível possuir alguém.
•de que podemos ter certeza do comportamento de alguém, no futuro.• de que é possível impedir a infidelidade, através do controle, do policiamento, das ameaças e da repressão.
• de que não daremos conta de uma separação ou traição.