Uma das mais antigas e tradicionais instituições, o casamento, permanece na moda. Nem as conquistas feministas dos últimos anos, a valorização do individualismo e o crescente custo de vida reduziram o interesse pelo casamento. Os historiadores não sabem dizer quando o homem começou a se casar, mas o mais antigo contrato matrimonial de que se tem notícia data de 900 a.C, no Egito. Apesar de se passarem quase três mil anos desde o primeiro registro de casamento, as pessoas continuam sonhando com o matrimônio.
Para Sônia Eustáquia, sexóloga e psicóloga, isso acontece por que o interesse e o desejo em fazer parceria com outra pessoa, de sexo diferente ou do mesmo sexo, faz parte dos objetivos de vida dos seres humanos. É próprio dos humanos também fantasiar com a possibilidade em ser plenamente feliz, e no caso do casamento é a expectativa de viver a felicidade vinda através do amor do outro, em receber e quase sempre em dar essa felicidade para outra pessoa também. Mesmo com tantas separações e divórcios o sonho de um casamento feliz ou da felicidade poder estar em um casamento, não vai acabar nunca, porque alimenta o sentido da vida. As expectativas sobre uma vida feliz no casamento, para uma mulher, eram baseadas na proteção e segurança que viria do marido, enquanto que hoje, são baseadas principalmente na quantidade de amor companheirismo e consideração que irá receber dele. Para o homem a expectativa também mudou. Ele esperava submissão, companheirismo, fidelidade e principalmente que ela fosse presente nos serviços domésticos e com os filhos. Ele seria o provedor financeiro e ela a provedora do lar. Mesmo tendo mudado a direção e os objetos das expectativas, o casamento continua em alta e hoje se encontra adaptado à cultura, tempo histórico e principalmente à revolução sexual. Existem pessoas que se casam repetidas vezes, lidam e analisam o fracasso e começam tudo de novo.
Para ela houve uma mudança no motivo do casamento ao longo da história. Antigamente casar era uma obrigação e uma atitude para manter a boa imagem na sociedade, mas hoje é um desejo e principalmente, uma escolha possível. É também um direito institucionalizado. Não se casa mais por obrigação e nem levado pela escolha de outras pessoas. Eu inclusive vejo mais ainda: não se casa mais porque quer constituir família, porque isso pode ser feito mesmo quando se é solteiro ou solteira. A mulher hoje é independente financeiramente e por isso pode sair da casa dos pais e morar sozinha, e assim quando ela opta por casar é porque quer muito mesmo se unir ao homem escolhido. O homem hoje pode se sentir mais seguro do amor de sua parceira, diferentemente do homem do passado que podia ter dúvidas sobre a genuinidade desse amor, pois se casava para não ficar solteira dentre outras razões além ou aquém do amor.
Apesar das leis do divórcio, para a psicóloga os casamentos continuam responsáveis nas obrigações e principalmente no amor. Todo mundo casa para dar certo e ser feliz até que a morte os separe. Acontece que atualmente existe menos “treino” para a tolerância e as pessoas são menos perseverantes. Em uma época de tanta rapidez em tudo, incluindo a comunicação e uso de mídias para isso, a paciência e perseverança ficaram no passado, e isso tem refletido nas relações interpessoais.
Os grandes problemas atuais da humanidade como o stress, a angústia do desemprego, a violência influenciam na decisão de casar, pois o casamento fornece uma segurança para ambas as partes. Compartilhar com alguém esses males da humanidade é melhor do que vivê-los sozinho. O amor e a independência feminina entraram na história e com eles as suas consequências, como o ciúme, busca de justiça no dia a dia e isso pode representar “brigas” e diálogos mais duros. Mas eu ainda considero o casamento um porto seguro.
Para Sônia, o sonho de se casar é igual tanto para homens como para mulheres, mas, difere na maneira de expressá-lo. A mulher é mais detalhista e deseja que o dia seja inesquecível, e para o homem ficam as coisas mais objetivas, como a compra ou aluguel do imóvel. A compra do que vai compor esse ninho de amor já é dos dois, incorporando toda uma indústria do casamento, que passa pela compra do vestido e a interminável lista de tarefas que tanto ocupam as noivas e suas famílias. Mas casar ainda é um sonho da maioria e não sai de moda tão cedo.