Quem é essa mulher que vive feliz mesmo com tripla jornada de trabalho? É a mulher que levanta cedo, rapidamente dá uma olhada nos e-mails, faz bilhetes para a rotina de trabalho da empregada, acorda os filhos para o colégio, seca os cabelos — atualmente favorecidos pela escova progressiva —, apronta-se bela, e segue.
Liberal, executiva ou doméstica, parece não mudar muito. O dia é cheio de afazeres, decisões, supervisão da casa, direção dos filhos, etc. Essa é a provedora do lar: mãe e esposa, que se desdobra em competência para competir no mercado profissional.
Pelo telefone resolve sobre a vaga do filho na escola de inglês e consegue na agenda difícil da melhor dermatologista um horário para a filha já universitária. Tudo isso em meio a inúmeros papéis para assinar e despachar ou a uma clientela para atender. Às vezes há uma parada para o almoço com os filhos, em outras vezes a opção é a ginástica.
Sente que é necessário atualizar-se. Por isso, à noite frequenta um curso de pós-graduação ou de línguas e só depois volta para a casa.
Tudo a sua volta alegra-se com sua chegada, até mesmo os objetos e móveis “parecem” receptivos aos seus cuidados. É hora de lavar, passar, arrumar, cozinhar, caso isso não tenha sido feito por outra pessoa, pois essas ainda são tarefas de algumas mulheres da atualidade que não possuem recursos financeiros para desfrutar do conforto de contratar profissionais de limpeza.
Com a família reunida, ela pode ver TV, ouvir música, fazer artesanato, colocar a leitura em dia, fazer a contabilidade e orçamentos domésticos ou colocar o papo em dia. Elétrica, dinâmica, alegre, nervosa, estressada, doce, amiga ou carinhosa, a mulher sempre vai estar presente, “reinando” nas famílias. Seu humor vai variar de acordo com alguns fatores, como: contas que puderam ser pagas sem atraso, o sapato novo que pode entrar no orçamento, boas trocas afetivas com o parceiro… Isso citando apenas o que gera bom humor.
QUEM É ESSA MULHER? COMO CAMINHOU ESSA HISTÓRIA?
A mulher foi se desenvolvendo desde “as cavernas”, cuja principal função era cuidar da prole, passando pelos movimentos feministas — o discurso de sair da vida privada para a vida pública —, conquistas políticas, etc. Contudo, o que a mulher conseguiu hoje foi algo que matematicamente é lucro: SOMAR.
Somou tanto, que às vezes ela deseja processar outras operações, como dividir. É comum sentir inveja da época da avó ou da mãe. Bons tempos em que os homens eram os únicos provedores financeiros e garantiam o sustento da casa e a educação formal dos filhos. Ainda despojavam com vaidade o seu sobrenome e posição social, permitindo à esposa desfrutar disso, garantindo-lhe respeito e valor. A mulher podia se sentir protegida, tranquila e amparada. Creio que muitas também foram felizes.
Existia uma “cartilha”, um modelo velado de como se conduzir bem pela vida; uma vez que essa cartilha fosse seguida, o sucesso se legitimava: respeito social, afeto do marido, progresso intelectual e financeiro dos filhos.
É evidente que o modelo antigo não é mais eficaz. Em minha experiência clínica, observo que mulheres que ainda optam por esse caminho se sentem infelizes, reprimidas, desvalorizadas. Percebem-se dependentes e incapazes.
A mulher atual tem vivido um modelo de conduta ainda em construção. Um projeto permeado de incertezas, em que as escolhas são dinâmicas e altamente subjetivas, o que gera bastante insegurança, mesmo para aquelas com boa autoestima.
É o tempo das incertezas, quando só vale avançar. Percebe-se que o caminho não tem volta. Os valores e paradigmas éticos, em constantes mudanças, induzem muitas interrogações e confundem ainda mais aquele que não está pronto.
É comum os temas atuais permearem questionamentos sobre o comportamento sexual, ou sobre como educar os filhos, manter ou desfazer um casamento. O que valia há dez anos pode estar obsoleto hoje. A profissão escolhida há alguns anos como a melhor, hoje estar desvalorizada social e financeiramente.
Saber estar feliz e equilibrada em meio a esse turbilhão de propostas é o desafio da mulher atual. O que ela deve saber é que está compondo mais um capítulo dessa história e que o momento atual é importante. Para construir, muitas vezes é preciso desconstruir, e isso normalmente traz bastante desconforto.
Existem algumas regras básicas para aliviar tantas incertezas e trazer mais felicidade:
— Tudo o que fizer, mesmo quando for muito árduo, deve dar prazer. O prazer é aquela sensação boa que faz brilhar os olhos e abrir o sorriso.
— Tudo que fizer deve ter uma carga bem intensa de envolvimento e comprometimento.
— É necessário crer que o que se está fazendo tem um significado. Isso corresponde a uma sensação de que a vida faz parte de algo maior, como por exemplo ter fé ou religiosidade.
Não existe uma fórmula única de felicidade que funcione para todas. Respeitando a subjetividade, a mulher faz suas escolhas, adapta-se a elas, realizando-se por meio de seu trabalho, amores e filhos. CADA COISA A SEU TEMPO E A SUA HORA. Um passo após o outro. Sobre o salto, alto ou baixo, nós mulheres andamos bem, obrigada!