Há uma considerável lista de fatores que contribuem para as dificuldades conjugais. Dificuldades financeiras, diferença de educação, formação profissional, estilo de vida e de objetivos. Há também os problemas sexuais, a infidelidade, problemas psicológicos e até mesmo a diferença de religião. Em fim, pode existir conflito nas relações conjugais pelo simples desgaste do dia a dia e é esse o desafio para a manutenção do amor e do desejo em uma relação duradoura.
Dos inúmeros problemas que afetam a vida conjugal, em seu dia a dia, parece existir algo mais profundo e que afeta diretamente o vínculo afetivo. As diferenças individuais podem ganhar uma proporção muito grande e negativa, fundamentando, inclusive a dificuldade em formar e manter os vínculos. Essa dificuldade se inicia na infância e caso a pessoa não tenha formado um grau satisfatório de vínculo nessa época, encontrará dificuldade posteriormente nas relações que mantiver. Por força da paixão que acontece no período de namoro entre duas pessoas, vários componentes da personalidade ficam ocultos. Na rotina do relacionamento eles emergem incluindo a dificuldade de manter o vínculo afetivo o que pode causar uma separação informal entre o casal dentro da mesma casa. Alguns denominam esse comportamento por “síndrome do comportamento de hospedagem” que é quando, o casal, vive no mesmo endereço, mas não dialoga ou participa um da vida do outro. Apenas moram juntos e muitas vezes até dormem juntos sem se sentirem vinculados. Nesses casos, o casal se distancia por causa desse comportamento exagerado de independência. Essas pessoas vivem seus papeis normalmente no cotidiano, todavia, demonstram frieza e comporta-se como um hospede dentro de casa; onde, então, começa acontecer a precariedade do vínculo, a tendência em gerar conflitos pessoais e no casal e que pode acabar em uma separação.
Existe ainda muita expectativa num amor romântico ou com inúmeras expectativas irrealistas de felicidade, tipo: “E foram felizes para Sempre”. É bom saber que toda relação duradoura pode e deve atravessar períodos de revisão, sempre que aparece algum sinal de que algo não vai bem. É bom entender que não existe o “foram felizes para sempre”, sem boas conversas assertivas que é dizer o que quer, como quer, e quando quer alguma coisa. Podemos chamar isso de uma conversa franca e efetiva.
Há quem julgue a rotina como a grande vilã dos relacionamentos nos casamentos. Mas, é importante saber que não é o único fator preponderante para o desgaste das relações afetivas. A rotina, junto com a falta de comunicação, excesso de dedicação ao trabalho, falta de convivência e intimidade, somados ao ciúme descontrolado abre espaço para o desgaste do casal na relação.
Outro fator interessante que marca o desgaste da relação é a oposição de valores e crenças, ou seja, “implicâncias” entre os parceiros à medida que o tempo passa para o casal. O que as vezes ignoram é que a expressão individual é uma boa coisa, pois favorece novas formas de expressão da subjetividade, o que sempre ajuda na vivência de um casal ou de uma família até mesmo nas relações de trabalho ou política, é aprender a lidar com o contraditório. Entretanto, no casamento, a ampliação do repertório individual pode acirrar posturas
culturais muito divergentes, gerando oposições entre parceiros, conduzindo o vínculo a uma rotina de críticas mútuas e rituais inconscientes de desligamento emocional.
A crise no casal tem um lado construtivo, ela leva a uma discussão da relação e podemos dizer que as discussões da relação realmente trazem uma boa revisão para o conflito. Geralmente essa discussão é uma reavaliação do projeto conjugal e geralmente resultam em boas reflexões sobre as atitudes no relacionamento. A consciência profunda de uma divergência ou erro pode levar á boas mudanças que certamente vão influenciar positivamente no relacionamento do casal.
Existem indicadores que apontam para uma relação carente de uma discussão ou para o desgaste do casamento e podemos perceber que as coisas não vão bem em vários aspectos da vida do casal: no social, psicológico e físico. O casal se isola, ficando cada um na sua, as brigas se tornam repetitivas e as tréguas são cada vez mais curtas e os ressentimentos mais duradouros , quando se comunicam é para desqualificar um ao outro ou implicar com coisas bobas. Tornam-se apáticos quanto à relação sexual e também já não se escutam porque acreditam saber o que ele vai dizer, às vezes não há mais sequer desentendimentos, porque ninguém mais busca o entendimento.
Os tempos desencontrados para as atividades extras residência, podem atrapalhar o casamento ou mais objetivamente, a vida sexual do casal. Imagina aqueles casais que o homem gosta de fazer sexo de manhã e a mulher à noite. E de noite ela está cansada e de manhã ele está cansado. Isso pode causar um problema de encontro no sexo. Eu costumo dizer que o sexo muitas vezes não provoca problemas no casamento. São os problemas do casamento que pioram a vida sexual. O que vemos no consultório é que o desentendimento do casal é um facilitador para problemas sexuais.
Um casal pode evitar desgaste nas relações conjugais e vencer os dilemas do casamento, principalmente visando a manutenção do amor e do desejo. A receita não é simples, mas, vale o esforço em ter atenção um com o outro, ser tolerante, leal e atencioso, procurar aceitar o parceiro como ele é, elevar as características positivas e evitar críticas destrutivas, mostrar sempre que sente a falta quando ausente, ser fiel, fazer demonstrações afetivas no cotidiano, participar das fantasias sexuais, manter uma boa periodicidade nas relações sexuais, ter admiração erótica, ser espontâneo, evitar álcool, drogas e cigarro antes do sexo. Além disso podemos sugerir mais algumas atitudes.
Dicas para melhorar a relação:
A Comunicação é essencial sempre, por isso é importante discutir a relação de forma aberta, pois, facilita a interação, a lidar com a intimidade, dá confiança ao casal, permite espaços de liberdade e potencializa o respeito mútuo.
Procurar resolver um problema de cada vez, e de preferência na hora que ele emergir conversando naturalmente sem se alterar, tendo muito cuidado quando for falar de dinheiro e família de origem, isso geralmente rende desgaste. A pessoa tem que se sentir motivada para resolver a situação e nunca humilhada.
Lembrar que qualquer diálogo sucumbe quando pedido vira cobrança.
Não abordar assuntos delicados quando estiver cansado, em fila de supermercado ou antes de sair para uma festa. Corre-se o risco de não conseguir concluir nada e ainda estragar o que se está fazendo. Evitar dizer o que faz raiva no outro.
Reserve um tempo para namorar. A ideia é que o casal passe um tempo juntos em um programa romântico, jantar, cinema, viagem; Busque sempre viver como no começo do namoro; sejam criativos e espontâneos em todos os aspectos do cotidiano.