Maternidade e carreira – conciliação de papeis
Vale a reflexão sobre a entrada e a consolidação da mulher no mercado do trabalho e as implicações à maternidade buscando apresentar os sentimentos, dificuldades e estratégias das mulheres que optam por trabalhar e ser mãe. Diferentes estudos apontam que conciliar maternidade e carreira é vivenciado como um conflito para a mulher atual, pelas novas demandas que lhe são apresentadas em função da necessidade/opção de muitas em transitar pelo espaço público e o privado.
É possível ser mãe e ser bem-sucedida profissionalmente?
Sim, é possível. Mas se deve ter em mente que não tem como realizar tudo junto, ou seja, não seria possível trabalhar ate tarde, realizar tarefas extracurriculares com os filhos, dar atenção ao parceiro(a) e ainda querer aproveitar todo o fim de semana. É bom que a mulher pense em uma divisão de tarefas e na organização precisa de seu tempo já que a dedicação para ambos os aspectos não será de100% do seu tempo. A mulher deve estar consciente que para o sucesso na carreira é necessário uma dedicação a mais e que sozinha provavelmente será complicado alcançar, por isso é bom exercitar a humildade e aceitar a ajuda do companheiro, da creche, da mãe e de outros meios.
Ainda existem obstáculos profissionais que possam atrapalhar a mulher de ser mãe?
Um dos obstáculos mais visíveis é que grande parte das mulheres que possuem filhos encontram mais dificuldades de serem contratadas. Para se inserirem em um novo emprego já possuindo filhos é ainda mais complicado. As empresas sentem dificuldade em apoiar as mães, porque para elas podem representar perda financeira, se comparadas com um “funcionário comum”, as mães podem precisar de um tempo para amamentação, precisam se afastar por causa de algum problema relacionado ao filho e com isso acreditam ser um mal investimento para a empresa.
O homem pode realizar o papel de mãe? Cuidar da casa, cuidar dos filhos enquanto a mulher trabalha?
Sim, Claro que sim. Eu tenho me encantado com a capacidade de “maternagem” do homem junto aos filhos, principalmente pelo prazer sentido nesse contato e ele tem se mostrado muito capaz principalmente em etapas onde a criança já não esteja mais amamentando. A aproximação do pai no cotidiano do filho vem aumentando dia a dia e modificando crenças e valores sócio/culturais bem como a sua compreensão a respeito do desenvolvimento infantil , além é claro, da proximidade afetiva. A mulher não precisa mais supervalorizar a maternidade, no sentido da maternagem e cuidado direto com o filho, e assim, ganhar mais tempo para o trabalho fora de casa.
Hoje em dia cresceu bastante o número de homens que ficam responsáveis por tomarem conta da casa enquanto a mulher está trabalhando fora. Alguns não optam por esta situação, como o caso daqueles que estão desempregados e então cuidam da casa como consequência entretanto muitos têm escolhido. Além de cuidar dos filhos também se inserem nas rotinas domésticas.
Observamos que o homem é muito competente no tempo e maneira dele, e por isso precisam ser respeitados na diferença. As mulheres devem ter ciência que grande parte dos homens não crescem sendo ensinados a terem habilidades domésticas, por isso muitos deles apresentarão grandes dificuldades ao desempenharem esse papel.
A mulher não é mais considerada o símbolo feminino da reprodução da espécie. É errado a mulher priorizar sua carreira em relação a ter filhos?
As mulheres são livres para decidirem se vão ou não ter filhos, quando e quantos terão. Para algumas mulheres ter filho é um símbolo de plenitude e divindade, no entanto, outras acreditam que seus sonhos são maiores e variados e não enxergam a gravidez como uma maneira de realização pessoal. As mulheres que adiam a gravidez hoje em dia, são bem resolvidas e fazem isso como uma escolha, sabendo não ser a sua prioridade no momento ou mesmo acreditam que não seriam capazes de administrar a carreira e a maternidade. Tudo com espontaneidade e segurança.
Porque atualmente ser mãe perdeu sua visão atrativa?
Há um aumento de possibilidades para se fazer carreiras e ao mesmo tempo as exigências quanto ao seu papel de mulher e maternidade. É natural que os sentimentos de medo, consciência das responsabilidades dentre outros fatores possam influenciar na pouca atratividade. Observamos que ser mãe não representa mais um ciclo a ser cumprido na vida da mulher. Muitas mulheres atualmente, acreditam que não conseguem conciliar profissão e maternidade e por isso escolhem não ser mãe, porque teriam um estilo de vida que não lhes agrada.
A mulher precisa escolher entre sua carreira e seus filhos? Tem como se dedicar a ambos?
Ela pode optar em ser mãe e ter uma carreira, o que ela deve fazer é um planejamento de vida. Dar prioridade a um ou outro em épocas distintas, quando estiver acelerando uma, apenas, desacelere a outra. Por exemplo, se planejar ter filhos cedo, ela deve se dedicar com alegria a essa função sem perder de vista a carreira. Por outro lado, caso queira consolidar a carreira primeiro, pode ter esses filhos à partir dos 35 anos, e dar bastante atenção a eles. Hoje as rotinas da casa são compartilhadas, e também podemos ter ajuda profissional através de creches e escolinhas. É bom lembrar que tem uma época na vida onde temos que nos esforçar mais e administrar melhor o nosso tempo. Também não podemos descuidar do amor e da sexualidade. Eu sei que a sensação de competência e de felicidade por dar conta de tudo vale a pena.
Porque a mulher com filhos tem menos chance de estarem inseridas no mercado de trabalho e serem bem-sucedidas em relação aos homens? Há algum tipo de preconceito?
A presença de filhos para a mulher no mercado de trabalho, geralmente impacta negativamente porque ainda há um estereótipo de gênero que valoriza os atributos do homem como aquele que pode se dedicar mais e acatar melhor as exigências. Isso, infelizmente ainda é uma realidade e uma discriminação social e cultural.
Ainda se tem a visão de que os homens são mais afastados dos filhos, cabendo à mulher a responsabilidade de cuidar e educar, sendo o homem o provedor do sustento. O resultado disso é a segregação de papéis, o homem como o único provedor e a mulher colocada somente como mãe.
Porque os filhos têm menos impacto na vida profissional dos homens?
Por que sempre foi a mulher que assumiu o lugar principal dos cuidados e educação dos filhos em todas as idades. Sobrando todo o tempo para o homem se dedicar às atividades profissionais. Eu creio que a partir das mudanças atuais produzidas pela mulher dentro de casa, principalmente na divisão de trabalho doméstico e com os filhos, a repercussão social e cultural se dará normalmente.
Porque ainda existem mulheres que acreditam que os homens não são capazes de cuidar dos filhos como elas?
Por que historicamente os homens foram responsáveis somente pelo trabalho remunerado e, acreditava-se que o exercício da maternidade exigia toda uma delicadeza e um cuidado que eles acreditavam não possuir. Então, grande parte da sociedade, homens e mulheres ainda acreditam que o papel da mãe somente pode ser realizado por uma mulher. As transformações sociais têm nos mostrado que isso é mito, uma crença apenas.
A separação da mãe com o filho no primeiro ano para que ela possa trabalhar pode gerar algum tipo de problema psicológico?
Não é a presença física da mãe na vida da criança que configurará a sua saúde emocional. O equilíbrio psicológico se dará sempre, pela boa relação estabelecida e disponibilidade afetiva através do convívio criança/adulto. A mãe biológica pode ser substituída por um adulto, homem ou mulher para conviver e atender a criança, sem com isso, em condições “normais”, trazer prejuízos emocionais. Por isso, a mãe pode delegar, sem medo, a outra pessoa, um cuidado que esteja inserido socialmente nesse papel materno. É claro, que é muito saudável para ambos, criança e mãe momentos juntos. Quando ocorre a separação pode criar na mãe um sentimento de falta com pensamentos negativos em relação ao cuidador alternativo, também o medo, insatisfação, apreensão, ansiedade e tristeza. Voltar a rotina profissional logo após a licença maternidade pode ser o melhor para mãe, uma vez que as pesquisas apontam pior adaptação ao trabalho daquelas mães que demoraram mais para voltar.
A supervalorização do trabalho ou da maternidade pode refletir no bebê? Quais as formas da mulher conciliar a dedicação ao filho e ser bem-sucedida profissionalmente? Redes de apoio, como creches, escolinhas e babás podem ser a melhor indicação?
A crença da mãe como única capaz de cuidar do filho traz sentimentos de ansiedade e insatisfação na mulher, podendo descontar na criança mais tarde como sendo ela o motivo de sua frustração na carreira e outras áreas pessoais.
Já a supervalorização da carreira pode gerar a terceirização demasiada dos cuidados com a criança, prejudicando o vínculo mãe/ filho. A mulher bem-sucedida não precisa abrir mão nem da carreira nem da maternidade. Eu creio na conciliação das duas, basta planejar, permitir que o pai entre pra valer e considerar as redes de apoio. Muita gente hoje conta com os avós como uma alternativa muito boa, pois são pessoas que estão mais próximas a criança e criarão laços construtivos.
Para as mulheres que não possuem a ajuda de alguém próximo as redes de apoio tais como creches, escolinhas e babas para o período em que estiver ausente é uma boa alternativa. Alguns serviços de profissionais especializados pode atender melhor do que algum dos avós ou mesmo do parceiro responsável pela criança. Tudo deve ser avaliado. O governo, e algumas comunidades oferecem creches que dão a possibilidade as mães com condições econômicas baixas, de deixarem seus filhos enquanto trabalham.
Entrevista concedida à Rádio Inconfidência em 08 de maio de 2018 – Programa Revista da Tarde, Coluna Amor e Sexo.