Mitos e tabus sexuais

Mitos e Tabus Sexuais

Entrevista concedida à Rádio Inconfidência em 20 de junho de 2017 – Revista da Tarde – Quadro Amor e Sexo

A ideia de sexo vem carregada de significados como: expectativa, satisfação, prazer, perigo, curiosidade, proibição, medo, insegurança, carinho, paixão e pecado. O que podemos observar são algumas contradições em certos aspectos que demonstram a tendência à superação de preconceitos e ideias tradicionais, e em outros ainda estão presentes valores arcaicos e tabus aliados às questões que envolvem a sexualidade. Sobre o assunto vamos conversar agora com a psicóloga e sexóloga Sônia Eustáquia Fonseca.

1 – Os mitos sexuais podem atrapalhar um relacionamento?

Para muitos, os mitos sexuais não permitem que se desfrute da sexualidade tal e como deve ser, pois interferem com a mesma ou inclusive, chegam a destruí-la. A melhor arma sexual é o conhecimento. Os mitos sexuais só refletem a escassa informação que a sociedade tem sobre a sexualidade.

2- É verdade que os opostos se atraem?

No início da relação o que mais encanta são as semelhanças e o que se tem em comum, depois do casamento, isso costuma inverter e são justamente as semelhanças que vão produzindo as discussões e brigas. É bom que homem e mulher se encontrem pelas diferenças, para que haja complementaridade, para que um ajude o outro a crescer. Em pessoas saudáveis a relação acontece dessa forma: os opostos ou preferencialmente as diferenças se atraem e se traduz em crescimento para o casal.

3- O ideal de um relacionamento duradouro é encontrar a outra “metade da laranja”?

A outra metade da laranja, com certeza não estará em outro muito parecido. Estará em alguém que completa, que faz crescer, que consegue fazer o parceiro ou parceira ser uma pessoa melhor. Eu acredito na outra metade da laranja até mesmo em parcerias mais patológicas é bem comum encontrar casais que se completam em suas neuroses. Entretanto, não é possível passar do estágio da paixão para o amor, se não existir semelhanças e diferenças transformadas em complementaridade. Na vida existem os heróis e os coadjuvantes. Em algumas relações somos heróis e em outras coadjuvantes ou até mesmo o bandido.

4- É verdade que com o tempo o sexo no relacionamento piora?

Eu trabalho com casais há 30 anos, e já vi de tudo. O que mais me impressiona é que numa boa relação AMOROSA o sexo tende sempre a melhorar e não piorar. O casal vai adquirindo mais e mais intimidade, e isso só faz melhorar. Existem pessoas que pioram primeiro na relação amorosa, então a relação sexual piora por isso. Estou falando da qualidade das relações sexuais, porque quanto a quantidade é normal que diminua com o tempo. Isso também obedece a subjetividade humana. Não existe regra geral, que contemple todos.

5- Se o meu parceiro não me procura sexualmente ou tem uma falha erétil é porque não me ama mais?

De forma alguma. É muito raro ter esta conexão com o amor. Tem que lembrar que a falha erétil, ou melhor, a disfunção erétil é do homem e pode ser um sintoma ligado ao seu emocional ou orgânico. Isso costuma trazer mesmo essa confusão para a mulher. Ela pode achar que não está bem fisicamente, que não está mais motivada a trazer para a relação alguma novidade, dentre outras culpas. Quando isso acontece o homem ou o casal deve buscar um especialista. Hoje temos ótimos profissionais especialistas em sexologia. Ele vai ter condição de diagnosticar e propor um tratamento adequado, tanto na linha emocional quanto na orgânica.

6- Ciúmes é sinônimo de amor?

Não é. É insegurança, baixa autoestima, problemas pessoais diversos. Principalmente quando a desconfiança é sem razão lógica. A insegurança quando motivada por possibilidade de traição ou deslealdade também pode ser chamada de ciúmes. E costuma doer muito. E pode até acabar com uma relação duradoura. O amor é confiança, lealdade, fidelidade, companheirismo, cumplicidade, intimidade etc., portanto não tem nada a ver com o ciúmes.

7- É verdade que o bom relacionamento é aquele que não tem brigas?

É sim. Não precisa brigar para colocar posições diferentes e tomar decisões. A briga entre aspas, só é boa para o relacionamento se for uma discussão para esclarecer pontos de vista, defender uma posição favorável aos dois aos filhos ou a família, assim ela será sempre benéfica. O tom de voz deve ser baixo, Cortez e educado. Principalmente se o casal tiver filhos. Ninguém merece escutar um casal batendo boca, nem filhos, nem vizinhos, ninguém. O casal também pode adotar uma linguagem assertiva, onde se coloca O QUE QUER COMO QUER E QUANDO QUER. Assim não vai ter briga feia nunca. Casais que têm brigas feias precisam de ajuda profissional. É uma dificuldade pessoal de se colocar e se fazer entender, portanto precisam de ajuda.

8 – O homem tem que estar sempre pronto para o sexo?

Essa cobrança existe e há uma expectativa social que impõe ao homem uma postura de prontidão ao sexo. Espera-se que ele sempre esteja a fim (no sentido de obrigação mesmo). A verdade é que isso é um mito. O homem nem sempre está disponível para o sexo por vários motivos e também varia muito de homem para homem. Os motivos ou variáveis podem influenciar nesse “apetite” como, por exemplo, a ansiedade, preocupações e a depressão são as piores inimigas. A idade também pode influenciar nessa prontidão. Normalmente o jovem tem maior disposição ao sexo.

Pela manhã, há maior tendência de se ter ereções, mas ao longo do dia, a vontade de fazer sexo pode variar muito e um homem pode até mesmo não apresentar desejo sexual algum. Isso só é problema quando ele passa a ficar ansioso e inclusive pode desenvolver uma disfunção; a disfunção de desejo ou desejo hipoativo. Por isso, fique calmo, você não precisa estar sempre pronto e “a fim” de fazer sexo.

9 – A pílula anticoncepcional diminui o desejo sexual?

Não é usual, mas em alguns casos, o anticoncepcional diminui sim o desejo sexual. Depende da composição da pílula, algumas podem conter doses hormonais altas que inibem o desejo sexual. As pílulas contemporâneas, no entanto, têm doses muito pequenas de hormônio e interferem pouco no desejo ou libido. Outros fatores emocionais podem diminuir o desejo e a mulher não prestar atenção neles e inconscientemente “culpar” a pílula; legitimando assim, ser a pílula a causadora da diminuição do desejo. Por isso, é melhor observar bastante todos os fatores que podem aumentar o desejo e não se entregar à possíveis causas de sua diminuição, principalmente quando se necessita usar a pílula. Temos que pensar que a diminuição do desejo pode ser o preço do sossego e segurança que algumas mulheres pagam para não se ter uma gravidez não planejada ou indesejada.

10 – O tamanho do pênis influi no prazer que a mulher sente na relação sexual?

Depende; um pênis pequeno pode gerar menos satisfação e um muito acima de 20 cm pode gerar desconforto. Entretanto, uma mulher pode se sentir plenamente satisfeita com um homem de pênis pequeno. O tamanho médio do pênis do brasileiro, em estado flácido é de 12 cm e de 15 a 20 cm quando ereto.

Eu sempre falo que uma relação sexual não se limita à penetração, encontro copular de pênis e vagina e que a vagina tem capacidade de se adaptar ao tamanho do pênis.

11 – Como as pessoas podem viver mais soltas e felizes, livres dos mitos que as aprisionam?

Eu acho que o conhecimento é um bom caminho; por isso ler, viajar, conhecer pessoas e lugares novos pode ser uma grande saída. Uma psicoterapia também pode abrir muitos horizontes das possibilidades pessoais, tanto no sexo quanto em outras áreas da vida

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