Limites nas relações amorosas & sexuais

Limites são uma expressão de amor, e o relacionamento amoroso, não fica fora da regra. São alguns critérios próprios de cada casal que considerados invioláveis e inegociáveis devem ser obedecidos. Existem limites culturais que normalmente são compartilhados por quase todos na sociedade, tanto na família quanto no casamento. Alguns são singulares entre as pessoas que estão dispostas a compartilhar, sem se sentirem atropeladas ou desrespeitadas pelo outro.
Para falar sobre o assunto conversamos agora com a Psicóloga e sexóloga Sônia Eustáquia Fonseca.

1 – Nos namoros e casamentos, os limites podem variar muito de uma pessoa para outra. Há pessoas capazes de suportar e até mesmo perdoar uma infidelidade, enquanto outras nunca conseguiriam, por mais apaixonadas que estivessem pelo seu parceiro. Porque essa variação acontece?
A educação que cada um recebeu influencia muito, assim como as experiências pessoais, seus valores e a autoestima. No entanto, é bom saber que, embora todos possam definir os seus limites pessoais, existe muita diversidade de opinião. São coisas, acontecimentos e emoções que são possíveis para uns e não são para outros e chegar a um acordo é muito importante.

2 – Existem comportamentos que não deveríamos aceitar se quisermos manter a nossa autoestima e dignidade?
Claro, para amar não é preciso renunciar o que somos. Um amor maduro, integra o amor pelo outro com o amor próprio, sem nenhum conflito de interesse. É preciso aprender a mar sem esquecer de nós mesmos.
Quase todo mundo sabe exatamente o que quer e principalmente o que não quer no seu relacionamento amoroso. No entanto, muitas vezes esses limites estabelecidos de forma consensual são desrespeitados, e mesmo assim a pessoa permanece no relacionamento e não se sente capaz de terminá-lo e seguir um outro caminho.

3 – Mesmo sabendo que a tolerância não lhe convém, há pessoas que preferem o sofrimento diário do que a dor da perda para sempre?
Elas sentem o seu parceiro como uma necessidade vital, como a comida ou o descanso e, portanto, o desapego torna-se impossível. O medo de perder o ser “amado” é tão grande que são capazes de suportar comportamentos como as mentiras, os maus-tratos ou a anulação, para manter o relacionamento. Os amores regidos pela dependência e pela entrega total sem análises, fazem com que a pessoa perca o interesse por si mesma, desaparecendo-se por completo no seu amado, sendo totalmente absorvida.

4 – A maneira de pensar sobre o parceiro como uma necessidade é o resultado de quê? O que provoca essa dependência?
Chamamos isso de “ganho secundário”; uma pessoa que aceita ter só esse tipo de ganho em uma relação é porque se encontra com um forte rebaixamento da autoestima e em uma profunda insegurança.
A dependência emocional aparece quando não somos capazes de impor as nossas regras e definir limites. O pensamento do dependente geralmente se expressa como: “Tenho certeza que mudará”, “Não é tão ruim… talvez eu esteja exagerando”, “Ele age assim porque está estressado, isso não vai durar para sempre”, dentre outras justificativas. Eles desculpam a conduta do parceiro(a), mesmo que isto os machuque, porque precisam acreditar na própria “mentira”. Internamente eles sabem que são falsas, mas ao menos se acalmam momentaneamente, fazem com que perdoem o seu parceiro e continuem com o relacionamento.
Quando os limites são ultrapassados, a pessoa começa a reagir com o mecanismo da “negação” e a partir daí, já podemos considerar um adoecimento e corrigir não é tão simples. Muitas vezes será necessário a ajuda profissional.

5 – Então, auto estima tem a ver com os limites. A pessoa que se ama coloca limites em qualquer relação. Ser dependente emocional chega a ser um adoecimento psicológico?
Ter uma autoestima saudável é aceitar-se incondicionalmente. Para ter saúde mental e bem-estar emocional é necessário uma boa autoestima. A baixa autoestima ou a falta de aceitação é, por outro lado, o ponto de partida de muitos problemas psicológicos.
Aceitar e amar a si mesmo com os defeitos, pontos fortes, limitações e potencialidades é o que realmente precisamos se quisermos ser felizes.
A autoestima tem muito a ver com os limites em todas as áreas da vida e, especialmente nos relacionamentos amorosos. Se valorizo mais a outra pessoa em detrimento de mim mesmo ou se acredito que não sou capaz de ficar sozinho, ou que preciso do outro para ser feliz, ou ainda sinto que é o meu parceiro é que dá sentido à minha vida, estou bastante doente, e em perigo, porque posso chegar a um ponto onde sinto que é difícil ou impossível sair da relação, mesmo quando ela está péssima.

6 – Nós só podemos ser felizes como um casal se soubermos o que estamos dispostos a permitir ou não, e o que queremos para nossa vida?
Para ser saudável devemos ser claro e coerente, e não podemos subordinar as nossas necessidades às necessidades do outro. Se estamos em paz e vivemos de acordo com as nossas ideias e valores, podemos estar em harmonia com a outra pessoa e, por sua vez, essa pessoa também se sentirá melhor conosco.

7 – O que não podemos deixar passar em um relacionamento amoroso?
O mais importante é ser sincero com as respostas. Se as respostas mostrarem que não estamos felizes e não vemos futuro, este é um bom motivo para terminar o relacionamento. Eu não devo ter dúvidas se amo e se sou amado. Sabemos que quando rompemos uma relação o sentimento é de fracasso e depressão, mas, também sabemos que trata de um processo de luto e de sofrimento que vai passar com o tempo, e que teremos que nos reconstruir. Talvez a dor não seja algo agradável, mas ainda é mais desagradável uma dor contínua para toda vida, dia após dia.

8 – O que é que nunca deveríamos tolerar?
Uma das coisas que nenhum ser humano deve tolerar é ser desqualificado e anulado como pessoa, ou seja, que seus gostos, valores e opiniões sejam ignorados ou muito criticados.
Ninguém tem direito de pedir ou ordenar a outra pessoa para deixar de ser quem ela é, porque então não faz sentido tê-la escolhido como parceiro. E se não gostamos da pessoa como ela é, sempre podemos voltar atrás e terminar a relação, mas nunca lhe dizer como deve ser ou como se comportar.

9 – Obviamente, outro limite que deve ficar claro se refere aos abusos, tanto físicos como emocionais, fale um pouquinho sobre isso.
Não podemos deixar que ninguém nos maltrate, porque ninguém tem o direito de agir dessa forma: encontrar justificativas para o abuso fará com que essa situação piore com o passar do tempo. Não devemos permitir que ninguém iniba a nossa liberdade individual, porque é a coisa mais valiosa que temos. Precisamos ser livres para ir e vir, para decidir o estilo de vida que pretendemos levar. Portanto, devemos sempre colocar a nossa liberdade acima de tudo. O amor não pode tudo. O amor deve ser pensado, e não apenas sentido.

10 – O medo de magoar as pessoas ou de desagradá-las impede que falemos de nossas posições diante do que acontece?
Acho que sim. Muitas pessoas não dizem não e nem emitem opiniões contrárias em uma conversa por medo de magoar a outra ou perder o seu afeto. Esse processo geralmente é inconsciente. A verdade é que podemos dialogar emitir nossas opiniões de maneira assertiva. Sempre dentro dessa receita: o que eu quero, como eu quero e quando eu quero. Isso vale para a educação de filhos e a educação formal na Escola. Serve para nos acompanhar no dia a dia em todas as comunicações.

Colocar os limites necessários em todos os relacionamentos é de extrema importância para a nossa saúde física e mental, e irá proporcionar a oportunidade de sermos felizes.


R--dio-Inconfid--ncia Entrevista concedida à Rádio Inconfidência
Revista da tarde – Quadro Amor e Sexo
14 de março de 2017

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