Nomofobia

Nomofobia

O abuso do uso de celular pode se tornar um transtorno, conhecido como

nomofobia, do inglês “no mobile phobia” (medo de ficar sem o celular).

A nomofobia é um transtorno de controle dos impulsos com um forte componente de

ansiedade generalizada. No DSM-5 (Manual diagnóstico e estatístico de transtornos

mentais) e no CID-10 (código internacional das doenças mentais), a classificação para a

Ansiedade generalizada é DSM-5 300.02 e F10-41.1; e para o transtorno de controle dos

impulsos, DSM- 312.9 e F10-63.8.

A característica essencial dos Transtornos de Controle dos Impulsos é o fracasso em

resistir a um impulso ou a uma tentação de executar um ato perigoso para si mesmo ou

para outros. E a característica essencial do transtorno de ansiedade generalizada é a

expectativa apreensiva acerca de diversos eventos ou atividades. No caso da nomofobia,

a pessoa é acometida por uma apreensão negativa em relação aos eventos futuros o que

provoca sensações de inquietação psíquica e sintomas físicos desagradáveis quanto à

possibilidade de ficar longe do aparelho celular. O transtorno de ansiedade faz parte da

caracterização dos transtornos no controle dos impulsos.

A nomofobia é percebida quando o uso do celular passa a trazer prejuízos na vida da

pessoa. Elas vão perdendo a capacidade de relacionamento humano e principalmente

com o contato físico. Vão perdendo o hábito de conversar “ao vivo”, de abraçar e beijar

outras pessoas, deixando de desfrutar bons momentos da vida com os familiares e

amigos.

A pessoa nomofóbica, coloca em risco outros aspectos da saúde mental e física: as

funções cognitivas, a postura física, o padrão do sono e a vida sexual podem ficar

comprometidos e em diversos níveis de gravidade. Sabemos da importância de um bom

condicionamento físico para manter um corpo saudável e sabemos também da

importância da preservação da memória e do raciocínio para uma vida intelectual

produtiva, bem como do equilíbrio das emoções para ser uma pessoa feliz. O uso

abusivo do celular certamente irá comprometer a sensatez e impedir uma vida plena.

Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha em 2014, 62,5 milhões de

pessoas acessa a internet pelo celular no Brasil. Ainda de acordo com o estudo, esse

número aumentou mais de 20 milhões de 2013 para 2014. Mostrou, ainda, que mesmo

em casa 52% das pessoas continuam acessando a internet pelo celular. Hoje o celular

condensa quase todas as informações que uma pessoa necessita no seu dia a dia, como a

agenda, o despertador, os aplicativos úteis e outras ferramentas como o GPS, além da

rede social e outros benefícios da internet. Talvez, por isso, ele seja realmente

necessário quase o dia inteiro. Mesmo assim a máxima “a virtude está no meio” deve

ser respeitada à risca. O uso moderado certamente beneficia a todos.

Há pessoas que não conseguem ficar sem o celular nem um instante. Deixam-no ligado

24 horas por dia, sentem-se rejeitadas quando ninguém lhes telefona e enfrentam

síndrome de abstinência quando estão sem o aparelho. Elas entram num estado de

profunda ansiedade e angústia quando se veem sem o celular, quando ficam sem

créditos ou com a bateria no fim. A necessidade de estar conectado ultrapassa todos os

limites. Uma pesquisa feita no The Royal Post, na Inglaterra, mostrou que 58% dos

britânicos e 48% das britânicas sofrem com a nomofobia.

A Ipsos, empresa francesa de pesquisas, publicou um estudo sobre o impacto do celular

na vida cotidiana dos brasileiros e mostrou como esse aparelho mudou a vida dos

usuários. A empresa realizou mil entrevistas com pessoas de ambos os sexos, de todas

as classes sociais e com mais de 16 anos de idade, em 70 cidades e 9 regiões

metropolitanas. Os resultados revelaram que 18% dos brasileiros admitem ter

dependência dos seus aparelhos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), 66 % da população brasileira acima de 10 anos possui telefone

móvel.

Os mais jovens, entre 13 e 25 anos, são os mais propensos a desenvolver o vício, idade

em que precisam ser “iguais ou parecidos” para pertencer ao grupo; damos o nome de

identificação a esse fenômeno comportamental nesse período do desenvolvimento da

personalidade.

Adquirir um aparelho celular cada vez mais sofisticado confere status econômico e

social e pode dar a sensação de inclusão bem como de reafirmação da identidade nessa

fase da vida. A consequência pode ser percebida pelo prejuízo no desenvolvimento da

segurança pessoal, e ao mesmo tempo, por uma dependência dos pais, que por sua vez,

por se sentirem inseguros, precisam constantemente estar conectados com os filhos para

saber onde estão.

O uso abusivo das redes sociais acontece porque falar de si mesmo gera prazer, não

dialogando como em uma conversa normal em que é necessário respeitar o tempo do

outro falar também. Nas redes sociais falamos de nós mesmos quase o tempo todo e isso

é alimentado pelas curtidas e comentários dos outros usuários.

Os nomofóbicos são pessoas que apresentam um perfil ansioso, dependente, inseguro e

com uma predisposição característica dos transtornos de ansiedade que podem ser, por

exemplo, transtorno de pânico, fobia social, fobia específica, transtorno de estresse pós-

traumático e costumam ficar dependentes da internet por medo de estabelecerem

relacionamentos sociais ou afetivos pessoalmente. Com o telefone celular em mãos,

essas pessoas têm a sensação de estarem acompanhadas e se sentem mais

independentes.

Muitas pessoas nomofóbicas não aceitam que são portadoras desse tipo de fobia e

atribuem a sua angústia a várias causas. Colocam a culpa no trabalho ou na necessidade

de se comunicar com a família ou com amigos, no caso de alguma emergência.

Vale lembrar que gostar muito de celular não significa ser nomofóbico. Para o

diagnóstico de uma patologia mais grave, a falta do aparelho acarreta sintomas como

taquicardia, suores frios, dor de cabeça e sensação de nudez. Nesses casos é

aconselhável a procura de ajuda psicológica.

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