PRÉ VESTIBULAR COMUNITARIO VILA MARÇOLA
HISTÓRIA DA CRIAÇÃO
O Pré-Vestibular Comunitário Vila Marçola consiste num projeto social ligado à Educação e desenvolvido junto à população de baixa renda. O Pré-vestibular surgiu em abril de 2006 a partir da iniciativa de um morador da Vila Marçola, David Francisco Lopes, aprovado no curso de Direito da UFMG que reuniu colegas e amigos para se mobilizarem e formar o Projeto com o nome de Pré Vestibular Comunitário Vila Marçola, as aulas seriam ministradas em um espaço cedido pela associação de moradores da comunidade. O criador do projeto percebeu que deveria ter como diferencial de outros Pré Vestibulares, a presença de duas disciplinas: uma ligada à cidadania e outra à Motivação, Organização Coletiva e Orientação de carreiras e de vida. Para a primeira, David fez um programa de assuntos que vem sendo trabalhado com os alunos até hoje. Para a outra disciplina convidou Sônia Eustáquia Fonseca, psicóloga, que se mantém presente até o momento e é responsável pela disciplina e incentivadora do Projeto. Logo no primeiro ano observou-se uma enorme adesão da comunidade e após alguns ajustes e adequações, o Pré-vestibular Comunitário Vila Marçola, assumiu uma estrutura e uma identidade que até hoje é repassada aos novos alunos e colaboradores. É importante ressaltar que a ideia é de ser um projeto comunitário e independente, de pessoas específicas ou instituições.
DESENVOLVIMENTO E GESTÃO
Até o final do ano de 2013, David Francisco Lopes Gomes foi o Coordenador Geral, quando passou a tarefa de gestão para a uma nova coordenadora durante o ano de 2014 e no momento está em processo de transição. As novas propostas atuais são a de descentralizar e dividir a coordenação em áreas: pedagógica, financeira, administrativa, acompanhamento de professores e alunos, dentre outras. Após 8 anos, o legado deixado foi a consolidação do projeto dentro do Aglomerado da Serra como prática coletiva autossustentável, como espaço de construção da cidadania e como lugar de auxílio para a democratização do acesso ao ensino superior brasileiro.
Como planos para o futuro, temos o objetivo de manter-nos fieis aos princípios que motivaram a criação do Pré-vestibular Comunitário Vila Marçola e buscar uma gestão do projeto cada vez mais integrada e integradora, empenhada em alcançar uma educação em nível superior e garantir uma formação cidadã, conscientização, socialização do poder entre os cidadãos e emancipação.
OBJETIVO
O objetivo principal do projeto é permitir a inclusão da população de baixa renda no ensino superior, através de preparação para os vestibulares. Historicamente a atenção era dirigida, primordialmente, a cinco focos: a UFMG, a UEMG, o CEFET, Fundação João Pinheiro e o ENEM/PROUNI.
Entretanto, com a adesão das universidades ao ENEM e ao SISU, as possibilidades se abriram muito e Minas Gerais possui uma gama enorme de universidades públicas, federais e estaduais, no interior que possuem programas sólidos de assistência estudantil. Levando isso em consideração, temos incentivado os alunos a considerar um curso de graduação fora de Belo Horizonte através de palestras e apresentações desses dados e programas de assistência Psicopedagógica a eles.
SEDE
Rua Caraça, 966, Serra.
QUANTIDADE DE ALUNOS ATENDIDOS
Anualmente, no período de matrículas, são inscritos aproximadamente 60 alunos e ao longo do ano acontece algumas adesões esparsas. Sendo assim, podemos dizer que a cada ano circulam pelo Pré-vestibular Comunitário Vila Marçola, 70 estudantes de várias idades. A taxa de evasão é alta e o principal motivo relatado é que têm compromissos inadiáveis como emprego e família, que os impedem de continuar frequentando as aulas. Por isso, ao longo dos últimos anos chegamos às vésperas do vestibular, com um número de alunos frequentes entre 5 e 10. Sendo que já foi possível, com bastante trabalho motivacional chegar ao final do ano com 15 alunos. Estamos trabalhando com o propósito de diagnosticar outras causas para essas evasões, entretanto somos perseverantes e otimistas. As expectativas para aprovações de ingresso em 2015 são ótimas para os alunos frequentes e razoáveis para os que fizeram o ENEM e não frequentam mais.
Considerando os últimos 8 anos de existência do Pré-vestibular Comunitário Vila Marçola cerca de 80 alunos foram aprovados em vestibulares, de instituições públicas e privadas e nessas, muitos com bolsas integrais e parciais. Não temos uma estatística exata e os números são estimativos, porque somente esse ano estamos trabalhando no acompanhamento dos inscritos e matriculados; frequentes e não frequentes em suas trajetórias. Cremos que assim, possamos ter uma estatística confiável daqui para a frente. Estamos também levantando dados, desde o seu início até o momento, através de listas de presença em sala de aula, eventos como as mostras de profissões que acontecem até hoje, e de subsídios coletados na ocasião da orientação vocacional.
O CUSTO PARA O ALUNO
É cobrada dos alunos uma taxa de matrícula ao início do ano no valor de R$20,00. Esse valor é destinado para aquisição das primeiras apostilas e também materiais básicos para as aulas.
Mensalmente a taxa cobrada é em torno de 5% do salário mínimo. A mensalidade atende a gastos com material didático proporcionado a cada aluno e os solicitados pelos professores. Eventualmente, alguma reserva que se forma é utilizada para subsidiar pequenas viagens, excursões e confraternizações para os alunos.
OS VOLUNTÁRIOS – PROFESSORES E OUTROS
O projeto é uma construção comunitária, que se mantém pelo trabalho conjunto de pessoas que doam o seu tempo e Dom de forma voluntária. São Professores de diversas áreas, de vários bairros da cidade, e moradores das comunidade.
Temos, ao todo, 9 monitores que dão aulas de revisão quinzenais, aos sábados pela manhã e 11 professores, que dão aulas semanais, de segunda à sexta-feira de matérias tradicionais como matemática, hístoria, química, e também dois professores com formação em filosofia e psicologia que dão, em conjunto, matérias especiais. São estas, “Sociedade e Cidadania” e “Motivação Pessoal e Organização Coletiva além da Orientação profissional e vital”.
A primeira matéria busca criar nos alunos consciência crítica a cerca da sociedade e do papel que ocupam frente a esta e frente à sua comunidade, reforçando nosso princípio básico que é a crença na Educação como o meio mais legítimo e eficaz para promover uma transformação social verdadeira e perene.
Por outro lado, a segunda matéria busca estimular os alunos a se empenharem nos estudos, ajudarem um ao outro na busca pelo conhecimento, colocando-se a ideia de que a Educação é um direito fundamental cujo exercício deve ser estendido a todos. Quanto à organização coletiva, incentiva-se os alunos a se organizarem enquanto turma e membros de um Pré-vestibular Comunitário Vila Marçola para garantirem seu melhor funcionamento, uma vez que os alunos também possuem deveres frente ao Pré-vestibular: eles são responsáveis por manter a sala limpa e organizada, abrir e fechar a sala de aula e auxiliam professores e coordenadores na gestão do Cursinho.
IMPORTANCIA EM SER UM CURSINHO COMUNITÁRIO
Em função de ter surgido de dentro da própria comunidade e ter se mantido durante 9 anos, consideramos que é um bom exemplo de prática auto- sustentável.
Além disso, outra consequência da existência do Pré-vestibular é proporcionar à comunidade a oportunidade de contato com esferas do saber e incentivar a busca por conhecimento, para além da simples preparação para uma prova de admissão na universidade. É importante para consolidar um espaço de construção da cidadania.
É um lugar de auxílio para a democratização do acesso ao ensino superior brasileiro, na medida em que a um baixo custo financeiro, disponibiliza para os alunos e exige deles o empenho no desfrute do conhecimento e experiência dos professores, material didático e acervo da biblioteca e outras oportunidades que são oferecidas (aconselhamento profissional por psicóloga, mostras de profissões, palestras e viagens). No intuito de tornar tangível e acessível ao maior número de pessoas o ensino superior.
PRINCIPAIS MUDANÇAS DAS ANTIGAS PROVAS, PRÓPRIAS DA UNIVERSIDADES PARA O ENEM
A Reforma Universitária se deu em diversos aspectos, para além da integração do vestibular e instituição do ENEM como principal forma de ingresso na universidade.
O PROUNI, concessão de bolsas, com base em critérios sobretudo sócio-econômicos, em instituições privadas de ensino superior e o REUNI, ampliação de vagas em cursos já existentes e criaram novos cursos, muitos deles voltados para problemas concretos da realidade social brasileira implicaram em mudanças importantes.
De acordo com David Gomes, que pode acompanhar de perto esse processo na coordenação do Pré-Vestibular Comunitário Vila Marçola, entre 2005 e 2013, hoje, é claramente possível encontrar estudantes de baixa renda fazendo um curso superior. Isso representa mudanças fundamentais em trajetórias de vida de indivíduos e famílias. De um ponto de vista social mais amplo, representa uma mudança simbólica extremamente importante e pode apontar para mudanças estruturais mais profundas no médio e no longo prazo.
Com relação ao ENEM, como já foi apontado anteriormente, a adesão de universidades públicas ao seu uso como forma de ingresso ampliou as possibilidades de cursos e universidades também, assim como o REUNI também o fez. Aliado às políticas de assistência estudantil oferecidas pelas instituições de ensino, as opções e diversidade aumentaram.
O ENEM em si também trouxe mudanças na medida em que mudou o perfil de prova e passou a exigir dos alunos outro enfoque nos estudos e outros pressupostos e embasamentos na construção do raciocínio. Primeiramente, buscou integrar conhecimentos em torno de áreas de saber: linguagens e códigos, ciências humanas, matemática, ciências da natureza. A multidisciplinariedade que o ENEM adota em suas provas é importante para o desenvolvimento de um conhecimento holístico em uma cultura de saberes cada vez mais especializados e setorizados.
Por outro lado, o ENEM traz um enfoque nessas áreas de saber para além do conhecimento teórico, mas também sua aplicação prática. Ao falar em tecnologias, exige do aluno saber aplicar à realidade cotidiana aquilo que estudou, entender a relevância do aprendizado adquirido para sua vida e saber contextualizar a informação de forma a aproximar o que vê nos livros ao seu contexto. Assim, evita-se que o conhecimento tenha um uso distorcido e aproxima teoria e doutrina da realidade e da prática. É importante essa visão que busque quebrar o ensimesmamento das ciências e pesquisadores e aproxima-los da realidade, para dar aos seus estudos utilidade prática.
Por último, o ENEM criou métodos de avaliação e ponderação das questões que buscam considerar não apenas o número de questões acertadas ou erradas, chegando a um resultado que aproxime da nota ideal àquele aluno que realmente detém o conhecimento e soube aplicá-lo durante a prova, independente de escolhas em alternativas baseadas apenas em probabilidades.
CONTRIBUIÇÃO DA MUDANÇA PARA O ENEM, NA FORMAÇÃO DOS ALUNOS E SUA INSERÇÃO NA UNIVERSIDADE.
Na medida em que valoriza esses três aspectos principais, multidisciplinariedade em detrimento da segmentação de saberes, aplicabilidade do conhecimento na prática e conhecimento de fato ao invés de jogo de probabilidades, o ENEM, pode trazer mudanças na forma de ensinar durante o ensino médio, na medida em que o maior objetivo é prepara os alunos para universidade e também pode trazer transformações no perfil de alunos que ingressarão nas universidades.
O ENEM é, em última instância, uma forma de filtrar e garantir ensino superior àqueles alunos que não só detêm o conteúdo básico, como costumava se dar nos vestibulares tradicionais, mas também possuem habilidades como desenvolvimento do raciocínio, capacidade de relacionar conteúdos e fazer analogias, produzir teorias a partir de teses e antíteses, resolver situações-problema e dar aplicabilidade ao que é estudado, construir e aplicar conceitos e interpretar dados e informações, conforme a sua Matriz de Referência aponta como Eixos Cognitivos.
Todas essas habilidades estão presentes em um perfil de aluno que é construído diariamente e muitas vezes fora de sala de aula. Os vestibulandos precisam demonstrar capacidade de não só absorver conhecimento em níveis de complexidade cada vez maiores. A tendência dos vestibulares, com o aumento da disputa por vagas em instituições de ensino superior, era pautar sua avaliação cada vez mais pelo critério rígido do conhecimento teórico, observado em questões complexas, detalhistas e compartimentadas.
O ENEM propõe um novo viés de avaliação, mais democrático, na medida em que amplia as habilidades a serem avaliadas, quebra esse ciclo de conhecimento cada vez mais aprofundado e menos contextualizado ao buscar emprego prático ao conhecimento adquirido e valoriza conhecimentos que vão além do que os livros pura e simplesmente oferecem, sem análise crítica e conhecimento da realidade.
Vislumbrando essa grande oportunidade de inserção de camadas menos privilegiadas da sociedade no ensino superior a partir dessas mudanças trazidas pelo ENEM, PROUNI e REUNI é que o Pré-vestibular Comunitário Vila Marçola renova sua motivação para continuar perseguindo seu objetivo. (Resumo e adaptação de entrevista concedida à Thaíne Belissa em 23/09/2014 )
PRÉ VESTIBULALAR COMUNITÁRIO VILA MARÇOLA A CAMINHO DE SE TRANSFORMAR EM UMA ASSOCIAÇÃO.
Em 17 de janeiro de 2015, reuniu-se em assembleia os fundadores, representantes dos professores, alunos e pessoas da comunidade para a aprovação de seu estatuto, eleição e pose de sua primeira Diretoria e de seu primeiro Conselho Fiscal.
A documentação está tramitando como devido e esperamos que seja concebida a ASSOCIAÇÃO PRÉ-VESTIBULAR VILA MARÇOLA ainda esse ano.