A NUDEZ NA INTERNET
“A internet não guarda segredos”
“Mantenha sua intimidade off-line”
Para que imagens íntimas compartilhadas não caiam nas mãos de pessoas erradas.
“MANDA NUDES”
Com o uso de aplicativos como o WhatsApp e Snapchat, enviar fotos de si mesmo nu fica mais popular e ganha até nome: “mandar nudes”, mas gera medo de vazamentos. Fotografar-se nu não é, obviamente, um comportamento restrito a famosos, a conduta tem ficado bastante popular principalmente entre os jovens. “Mandar nudes” ou “sexting” trata-se de expressão popular na internet, que se refere ao ato de fotografar e enviar através dos aplicativos as fotos sensuais .
A vontade de exibir o corpo nu parece ter aumentado, principalmente entre os jovens, porque os adolescentes e jovens encontraram nos smartphones uma nova maneira de expressar a sua sexualidade e por isso, o “nude selfie” e o “sexting” estão fazendo parte dessa nova cultura.
O “selfie” com nudez é mais um jogo sensual entre os adolescentes que estão numa fase de descobertas de sua sexualidade. Para muitos, mandar um “nude” para o parceiro ou parceira é uma prova de cumplicidade e intimidade.
O problema é que agora existe uma plateia enorme assistindo à cena e julgando a vítima através das redes sociais. Não existe mais segredo entre duas pessoas na internet. Hoje temos alguma empresas de pesquisa online como o Instituto Qualibest, que aponta uma tendência maior entre jovens de 16 a 30 anos que têm essa prática.
Eu acho que é a instantaneidade dos aplicativos de mensagem que exacerba o exibicionismo. Eles despertam e potencializam a vontade intrínseca das pessoas de valorizar o corpo, exibindo-o . Pelo aplicativo Snapchap o jovem pode programar, para que a foto fique apenas alguns segundos e se apague. É o tempo para uma exibição bem curta.
Essas fotos geralmente são mandadas por WhatsApp, escolha de 87% dos usuários, e têm um destino certo, geralmente são casais ou grupos de jovens que se organizam com esse objetivo – o de brincar uns com os outros – Entretanto essa brincadeira pode dar muita” dor de cabeça”.
O ambiente virtual pode parecer seguro, mas não é. As imagens podem vazar, e trazer muitos aborrecimentos ao dono da foto. A ONG SaferNet Brasil – entidade que monitora crimes e violações dos direitos humanos na internet, em parceria com a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público (MP). Faz a estatística dos casos, orienta e oferece auxílio psicológico as vítimas do crime. Eles atenderam a 224 casos desse tipo no ano passado, e aponta um crescimento de 120% em relação a 2013. Essa é uma estatística de quem denuncia, porque tem muita gente que não delata, porque sente vergonha ou muito culpada. As vítimas também têm medo de que as fotos cheguem até os pais e parentes.
A vergonha
O que o jovem precisa saber é que: “A internet não guarda segredos” e também que ele deve “Manter a sua intimidade off-line”. Essas são algumas frases da ação que a ONG Safer Net lançou como campanha de prevenção.
A pessoa que se fotografa nua para uma pessoa específica, ela pode não ter a dimensão do quanto isso pode lhe prejudicar, caso haja vazamento das imagens. Sabemos que o estado emocional da vítima fica péssimo: A auto estima cai, o medo aparece e também aparecem alguns sintomas de “paranoia”, como: “todo mundo está me olhando e censurando” ou “eu agora vou ficar mal falada” ou “vou perder amigos” dentre outros pensamentos negativos. As vezes a menina entra em estado depressivo o que pode levar até ao suicídio.
Em novembro de 2013, Júlia Rebeca, de 17 anos, se suicidou em Parnaíba (PI) depois que um vídeo seu fazendo sexo começou a circular nas redes sociais.
A ONG SaferNet, registra mais denúncias feitas por mulheres, chegando a 81%. E a maior parte dos outros 19% são de homens que marcaram encontros com outros homens e passaram a ser ameaçados de ter sua orientação sexual revelada. Geralmente os homens heterossexuais não procuram ajuda e não sofrem grande consequência. As mulheres sentem um impacto social maior.
Os jovens podem se proteger melhor de vazamentos dessas fotos: Ele deve tomar cuidado com a identificação – Evitando mostrar o rosto e marcas que possam identifica-lo, como tatuagens, pintas ou cicatrizes. Não mandando foto para mais de uma pessoa – pode ser mais fácil saber quem distribuiu. Tento cuidado com os arquivos – O melhor a fazer é apagar o “nudes”. Se quiser armazená-lo, tome cuidado. Compacte os arquivos em uma pasta zip com senha ou use apps como Private Photo Vault, que esconde imagens. Caso vaze o que pode ser feito é denunciar em uma delegacia e usar o direito em relação a lei reguladora. É possível também pedir pessoalmente a remoção das imagens em empresas como o Google e o Facebook; na esfera jurídica, a maioria dos casos é enquadrada como crime contra a honra.
Para onde caminha essa tendência? Qual é o futuro disso tudo?
Infelizmente a previsão é de se ter um aumento significativo de denúncias e de atendimentos especializado pela Ong Safernet . Os pedidos de ajuda tiveram origem em 166 cidades brasileiras. Desde que o serviço de ajuda on-line começou, há dois anos, o estado de São Paulo responde pelo maior número de casos. Entre janeiro de 2012 e fevereiro de 2014, foram 20 atendimentos vindos de SP, seguidos por 11 da Bahia e seis do Rio de Janeiro. Outra pesquisa feita em 2013 pela Safernet, em parceria com a operadora de telecomunicações GVT, mostrou que 20% de 2.834 jovens brasileiros entrevistados afirmaram ter recebido conteúdos de “nude selfie” e “sexting”. E que 6% deles reenviaram essas imagens para outras pessoas.
A Ong Safernet descreve um perfil das vítimas de “nude selfie” e “sexting”:
Gênero: feminino: 77,14% e masculino: 22,86%
Faixa etária: 10-12 anos: 7,14% – 13-15 anos: 35,71% – 16-17 anos: 17,86% – 18-25 anos: ,14% acima de 25 anos: 7,15%.
Vítimas: A pesquisa de atendimentos feita pela Safernet revela que garotas de 13 a 15 anos representam a maioria das vítimas de “nude selfie” e “sexting” que buscam ajuda psicológica.
Uma pergunta: Como deveria ocorrer a prevenção? A Ong Safernet lançou uma campanha mundial contra a divulgação e o compartilhamento nas redes sociais de fotos, vídeos e troca de mensagens íntimas de crianças, adolescentes e jovens.
No cartaz da campanha, aparecem mensagens de alerta – como “A internet não guarda segredos” e “Mantenha sua intimidade off-line” – para que imagens íntimas compartilhadas não caiam nas mãos de pessoas erradas.
A divulgação de fotos, vídeos e outros materiais com teor sexual sem o consentimento do dono pode ser interpretada pela Justiça como crime, de acordo com várias leis. O ato pode ser classificado como difamação (imputar fato ofensivo à reputação) ou injúria (ofender a dignidade ou decoro), segundo os artigos 139 e 140 do Código Penal.
Culpa e a responsabilidade nos relacionamentos afetivos
O artigo 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) qualifica como crime grave a divulgação de fotos, gravações ou imagens de crianças ou adolescentes em situação de sexo explícito ou pornográfica. Prevê pena de 3 a 6 anos de reclusão e multa para quem publicar materiais que contenham essas cenas com menores de 18 anos.
A Lei 12.737, em vigor desde abril, também criminaliza a invasão de dispositivo informático alheio para obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização do titular. Quem tiver essa conduta pode pagar multa e ser preso por 3 meses a 1 ano. A lei foi apelidada de “Carolina Dieckmann” após a atriz ter seu computador hackeado e suas fotos íntimas, divulgadas.
O Marco Civil da Internet prevê em seu artigo 21, que aguarda aprovação do Senado para virar lei, que a vítima pode pedir ao provedor a retirada de conteúdo de nudez da própria pessoa, sem a necessidade de advogado ou de recorrer ao judiciário.