SEXO: HOMEM VOCÊ TEM MEDO DO QUÊ?
Os homens não têm o costume de falar sobre suas dificuldades sexuais. Dificilmente eles conversam entre si sobre os problemas de desempenho e preocupações nessa área. Por isso, vivem os seus temores em extrema solidão, sentimento que pode se transformar em ansiedade e até mesmo em depressão.
O medo nos homens não se manifesta de maneira clara e consciente. Ele se transforma em um ou mais sintomas que só mesmo uma avaliação criteriosa poderá detectar a sua origem para posterior tratamento e recuperação.
Ao contrário das meninas, que vão ao ginecologista logo na primeira menstruação, os rapazes não são orientados desde cedo a cuidar da própria saúde sexual. Por conta disso, atualmente, com o advento do Viagra e seus similares, inúmeras dificuldades costumam ser tratadas direto no balcão da farmácia, pelo fato desses medicamentos serem isentos de prescrição.
Os medos dos homens
Recentemente, o projeto Mosaico 2.0 entrevistou 3 mil brasileiros em um estudo completo sobre sexualidade e afetividade. Dentre muitos outros resultados, a pesquisa apontou quais os grandes medos dos homens em relação ao sexo. Em primeiríssimo lugar, batendo os 54,8%, está o temor de não satisfazer a parceira. Uma queixa pouco ouvida em meu consultório.
O estudo relaciona alguns principais medos dos homens antes e durante as relações sexuais. Para 96,2% dos homens, transar é considerado ‘muito importante’ para a harmonia de um casal, principalmente nas faixas etárias de 26 a 50 anos. E, por isso, o medo de não satisfazer a parceira lidera o ranking de temores masculinos.
Dois fatores costumam contribuir para esse tipo de ansiedade. O primeiro é que muitos homens ainda acreditam serem os únicos responsáveis pelo orgasmo feminino. Já o segundo é que outros tantos têm medo da comparação com outros parceiros.
O que os homens precisam entender é que o orgasmo feminino é um caso à parte, e que não deve estar associado ao seu desempenho sexual e muito menos com as suas dotações pessoais quanto ao tamanho e diâmetro do seu pênis. Outra ponto importante é que, normalmente, a mulher não se interessa em comentar a performance de seu parceiro.
O segundo temor apontado pela pesquisa é o medo de contrair doenças, citado por 48% dos entrevistados, incluindo as mulheres. As DSTs – ou ISTs – são um medo constante, porque, infelizmente, o uso de preservativos não é habitual como deveria. ‘Não uso camisinha’ foi a resposta de 19,6% dos solteiros, de 23% dos divorciados e de 24% dos viúvos.
Já ejacular muito rápido ou mais cedo do que gostaria é uma preocupação de 42% dos homens entrevistados. Primeiro, porque tira o prazer do próprio homem, que gostaria de se demorar mais no ato. Segundo, porque deixa a mulher “na mão” sem aviso prévio.
A ejaculação precoce, provocada pela falta de autonomia, é um ato inconsciente, involuntário e quase sempre está inserido em estados de grande ansiedade. No consultório, a ejaculação rápida ou precoce é a segunda grande queixa dentre as disfunções sexuais.
Ter problemas com a ereção ou falhar também foi um dos medos apontados pela pesquisa. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, cerca de 30% da população apresenta algum grau de disfunção erétil.
A impotência Sexual é a incapacidade persistente, total ou parcial, de iniciar e/ou manter uma ereção durante o tempo suficiente para a prática de uma relação sexual satisfatória, desde o coito até a ejaculação.
Milhões de homens no mundo passam por essa situação. Este fato é demonstrado pelas estatísticas que evidenciam que a Disfunção Erétil incide em até 5% dos homens de até 40 anos, 27% daqueles que estão na faixa dos 60 anos e em 55% dos homens acima de 70.
Em tese, a maioria dos homens sexualmente ativos já enfrentou algum tipo de Disfunção Erétil ao menos uma vez na vida. Sabe-se que 70% desses casos têm origem emocional ou psicológica. Uma porcentagem menor são causadas por fatores orgânicos como os desequilíbrios hormonais ou cardiovasculares. Há ainda alguns gerados por fatores comportamentais, como o sedentarismo, alcoolismo, obesidade, tabagismo, entre outros.
Comumente, a Disfunção Erétil causa um efeito arrasador sobre a autoestima masculina e, em alguns casos, torna-se determinante para conflitos conjugais e casos de desespero, podendo até mesmo evoluir para um quadro de grave depressão.
Quando apresenta um fracasso ocasional, o homem começa a sentir o “temor de desempenho”, que é a expectativa de um novo insucesso na próxima vez que for ter uma relação sexual. Essa situação gera muita ansiedade e inibe o reflexo erétil. E é exatamente o medo de não ter a ereção que faz com que o homem não a tenha, fato que pode motivar um processo disfuncional com falhas eretivas permanentes.
Ademais, também é comum a situação em que o homem só consegue ter ereções para se masturbar ou pela manhã, mas não consegue ter ou manter uma ereção satisfatória para a penetração e para manter o coito – homo ou heterossexual.
Outro temor do homem é não conseguir “dar mais de uma por noite”, com uma porcentagem de 23,3% dos respondentes citando este ponto. Quanto mais jovens são os homens, mais existe o desejo de “transar” repetidas vezes a cada encontro.
De acordo com a pesquisa do projeto Mosaico 2.0, homens na faixa dos 18 aos 25 anos revelaram que costuma ter dois atos sexuais, no mínimo, por noite. Conforme a idade avança, diminui a quantidade de relações e a partir dos 51 anos a média é uma relação por vez.
Interessante e necessário é mencionar o contraponto feminino, a alternativa “não conseguir dar mais de uma” foi citada como preocupação de apenas 5,4% das mulheres. Para elas a quantidade é irrelevante, porque, para a maioria, a qualidade é primordial. Elas consideram que o bom desempenho sexual tem a ver com a intimidade e afeto.
As comorbidades
Importante salientar que esses medos ou algum deles ainda podem se juntar com outro conflito remanescente ou em pré-disposição e formar um novo quadro disfuncional produzindo muito sofrimento. Trata-se das comorbidades, que é a existência de duas ou mais doenças em simultâneo na mesma pessoa.
Uma das características da comorbidade é que existe a possibilidade de as patologias se potencializarem mutuamente, ou seja, uma provoca o agravamento da outra e vice-versa. Além disso, a comorbidade pode dificultar o diagnóstico e influenciar o prognóstico. Por isso, só um especialista poderá alcançar e propor o tratamento, do contrário, o sofrimento do paciente poderá se perpetuar.
Bastante comum em meu consultório, por exemplo, é uma disfunção eretiva intermitente ou esporádica, produzida por “ ideias intrusivas”, sintoma específico das Neuroses Obsessivas Compulsivas. São pensamentos recorrentes e incisivos onde o paciente tem consciência que está sendo afetado negativamente e onde lidar com eles se transforma em um tormento.
Esses pacientes usam o seu pensamento como munição contra si mesmos muitas vezes por dia e de forma involuntária. Nesses casos, os pensamentos ganham força para formar um quadro de disfunção erétil completamente desigual a tantos outros citados em livros ou em buscas no Google, onde normalmente buscam informações.
Por fim, frente à tantas possibilidades de medos, resta ao homem se acalmar e procurar uma ajuda profissional criteriosa.