Relação sem sexo, é possível?
Relacionamento sem sexo dá certo? Existem relações pautadas por outros prazeres? As cobranças estão por toda a parte quando um tema tabu como esse surge. “Como vocês não transam? Têm algum problema?” É interessante observar a pressão que terceiros exercem sobre as relações quando elas não envolvem sexo. Um relacionamento pode ser feliz e duradouro mesmo sem ele, já que pode ser estabelecido em outras bases.
A relação dos jovens com o sexo
As relações sem sexo não são exclusividade de casais mais velhos ou que estão juntos há muito tempo. Pesquisas revelam que a atual geração de jovens faz menos sexo que as gerações anteriores, apesar da ampla disponibilidade de aplicativos e sites de namoro e da maior aceitação sobre o sexo antes do casamento.
Uma pesquisa desenvolvida pelo departamento de Psicologia da Universidade Estadual de San Diego, em 2015, já revelava que os jovens nascidos a partir de 1980, ao contrário do esperado, estavam fazendo menos sexo do que os seus pais faziam na mesma idade. Parece ser uma tendência crescente o desejo de viver uma história de amor sem a necessidade de sexo.
Já um estudo feito por pesquisadores da Universidade Atlântica da Flórida e publicado na revista científica “Archives of Sexual Behavior”, afirma que a atual geração de jovens, é a que menos faz sexo desde os nascidos em 1920, época de guerra. O estudo analisou os “Millennials”, a geração de pessoas nascidas na década de 1990, e descobriu que eles eram o grupo mais sexualmente inativo desde a época da Grande Depressão. Os entrevistados pela pesquisa eram todos nascidos nos Estados Unidos.
Estes estudos realmente contradizem a noção generalizada e popularizada por aplicativos de namoro, como Tinder e outros, de que os jovens são a geração “conexão”, sugerindo que eles estão à procura de relacionamentos rápidos e sexo casual frequente. Os dados mostram que os jovens de hoje não são mais promíscuos do que seus antecessores.
As razões para esta mudança são complexas, e dentre os fatores podemos incluir mais educação sexual, uma maior consciência sobre as doenças sexualmente transmissíveis, acesso fácil à pornografia e, talvez, diferentes definições entre as gerações do que é o sexo – se este se refere a sexo oral ou coito, por exemplo.
De alguma forma, saber mais sobre sexo e poder vê-lo em vídeo não se traduziu em mais sexo real para os jovens de hoje. O aumento do individualismo observado nos “Millennials” pode estar influenciando na maneira como eles sentem a pressão para adequar seu comportamento ao de outros jovens de outras épocas.
Relações sem sexo
O sexo não é a base exclusiva para uma relação duradoura, é um complemento. Às vezes, as pessoas direcionam os seus desejos para outras áreas das suas vidas, como a carreira, esportes, estudos e conseguem se realizar plenamente com o que fazem, pautando as relações em outros princípios não menos importantes como o companheirismo e afeto.
A necessidade emocional de ter alguém ao lado, junto à falta de expectativa em ter uma vida sexual cada vez mais ativa, fez com que fosse criado um site, que se chama Sugar. Através dele homens podem contratar uma mulher como acompanhantes, mas com a condição de que não haja sexo entre eles. Esse é, inclusive, um dos quesitos para o estabelecimento de uma relação sugar – aquela em que a figura de um daddy, o provedor financeiro e emocional, firma as bases do relacionamento de comum acordo com sua baby. Neste sentido, ao definir os princípios da relação, os parceiros estipulam “sem sexo”. As trocas são definidas com a premissa do companheirismo, de confidências, da amizade e do compartilhamento de experiências.
São diferentes os motivos que levam uma pessoa a ter uma relação sem sexo, e eles se dão de acordo com a faixa etária e gênero. Enquanto os jovens têm mais disponibilidade de tempo, muitos não têm um local adequado ou as condições econômicas necessárias. Já os adultos, em relações estáveis, são acometidos pelo excesso de trabalho, preocupações com o orçamento doméstico e filhos pequenos. E quando esses filhos crescem, o que atrapalha é que a mulher entra em climatério, onde a disponibilidade sexual é menor. Isso justifica inclusive a frequência sexual do homem ser maior do que a da mulher, na média.
As pesquisas mostram que mulheres jovens são cerca de duas vezes mais propensas do que os homens a serem sexualmente inativas. Segundo estudos, os homens têm em média mais relações sexuais por semana do que as mulheres: 3,15 entre eles contra 2,65 entre elas. Quanto às expectativas, eles gostariam de ter em média 6,48 relações por semana e elas, 4,58. No Brasil 9% das pessoas entre 18 e 70 anos não fazem sexo, sendo 7% das mulheres e 2% dos homens.
A questão da sexualidade humana é muito individual. Cada pessoa vive a sua sexualidade como quer ou precisa levar, e novamente a psicologia cai em sua “velha” máxima: cada caso é um caso. Por isso podemos concluir que o sexo pode não ser o essencial para um relacionamento ser harmonioso e feliz.