DIVERGÊNCIAS NO CASAMENTO

Briga de casais
Conviver com alguém significa ter que lidar com as diferenças

DIVERGÊNCIAS NO CASAL
Entrevista na Rádio Inconfidência – 06/06/2017 – Revista da Tarde – Quadro Amor e Sexo

No casamento as diferenças e incompatibilidades podem infernizar o dia-a-dia, mas tem gente que diz que na vida a dois é fácil fazer concessões. A menos que você tenha um clone do sexo oposto, é praticamente impossível encontrar alguém que tenha os mesmos gostos que os seus. Portanto, as diferenças sempre vão existir entre um casal, mas isso não significa que os conflitos tenham que ser constantes. Vale a pena investir em um amor difícil? Sobre essa e outras questões eu falo agora com a psicóloga e sexóloga Sônia Eustáquia Fonseca.

1 – Conviver com alguém significa ter que lidar com as diferenças. Não existe no mundo duas pessoas iguais, portanto as diferenças surgem a cada instante. O que fazer?

Para ter um relacionamento é preciso de jogo de cintura. Não basta apenas gostar. O amor se completa com sintonia. Segundo dita a lei popular os opostos atraem-se mas apesar disso existem divergências entre o casal que decorrem precisamente dessas diferenças entre personalidades. Desde ideais até gostos pessoais são várias as diferenças que se vão conhecendo ao longo da relação. Quando não discutidas e compreendidas, as diferenças podem originar discussões e incompreensão entre os elementos do casal.

2 – O que é incompatibilidade e o que é diferença? o que pode impedir uma relação são as diferenças ou as incompatibilidades? Ou existem outros fatores mais sérios do que esses?

Diferença é o mesmo que desigualdade. É quando uma coisa não é parecida com a outra. Levando isso para os relacionamentos, podemos dizer que duas pessoas são diferentes quando elas possuem gostos, hobbys, desejos diferentes. E a incompatibilidade significa oposição. Duas coisas incompatíveis não conseguem estar no mesmo espaço, ao mesmo tempo, ou no mesmo local. Nos relacionamentos, casais incompatíveis tem crenças, valores e desejos opostos um ao outro; ou que, no mínimo, mesmo não sendo opostos, causem uma repulsão de uma das partes. É possível viver e aceitar as diferenças. Mas é impossível aceitar as incompatibilidades. No entanto muitas pessoas não sabem quando são diferentes e quando são incompatíveis

É que o diferente pode ser aceito na junção de tudo, mas o incompatível não.

Existe sim, o pior fator, é o egoísmo. Lembrando que também não se deve submeter apenas às vontades do outro porque pode despersonalizar a pessoa. Os dois precisam ter disposição e saber que vida à dois não significa que é preciso fazer tudo juntos e gostar das mesmas coisas com a mesma intensidade.

3 – Quando um casal é diferente e quando ele é incompatível?

É diferente quando ele não compartilha o mesmo desejo ou ideais e dialoga sobre a possibilidade em ficarem mais parecidos nos gostos e desejos. E incompatível quando não compartilham principalmente os seus princípios e brigam muito por causa das incompatibilidades de gostos, ideais e valores. O período de namoro serve para que o casal se conheça e se ajuste nas diferenças, sendo plenamente possível viver juntos com elas.

4 – Quais os benefícios das diferenças? Um casal pode ser diferente em muitas ideias e mesmo assim dar certo, se beneficiar com as diferenças?

Por vezes, casais com personalidades muito diferentes convivem até melhor que casais que acreditam que os gostos são semelhantes. Tudo vai depender de como eles lidam com isso e qual é a importância que dão ao fato. Eu acredito que as diferenças devem ser usadas para enriquecer a relação.

5 – Quais seriam os pontos mais sensíveis para lidar com as diferenças e tirar proveito delas? Também para tornar a relação mais interessante.

– Aprender a respeitar a identidade de cada um;

– Viver novas experiências e, até mesmo, passar a gostar de algo que julgava ruim;

– Aprender a fazer concessões;

– Passar a enxergar além do próprio umbigo.

– Conhecer as perspectivas do seu parceiro

– Mostrar interesse – Apesar de poder ter perspectivas diferentes das do seu parceiro não deixe de mostrar interesse de forma verdadeira e espontânea.

– Saber dialogar e aceitar as diferenças

– Ceder e convencer a outra pessoa para que ceda também.

– Fazer com que as divergências se completem – É possível aproveitar as diferenças do seu parceiro para completar vários aspectos na relação. Aprenda com as diferenças do seu parceiro e complete a sua relação tendo em vista a felicidade de ambos

6 – Os casais têm cuidado com as palavras e paciência ao conversar sobre as diferenças ou divergências? Ou normalmente partem para uma briga?

Conversar sobre temas que podem ofender ou magoar o parceiro exige sabedoria, serenidade e enorme empatia. Empatia significa a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, mas não com a nossa forma de pensar; trata-se de tentar entender como funciona o modo de pensar da outra pessoa, como ela está sentindo, como está se vendo diante de uma determinada situação. Além disso, conversar com calma, ponderando as palavras, sem pressa de contra argumentar e sem desconsiderar ou subestimar o sofrimento do outro apenas porque pensamos saber lidar melhor com aquela situação. É saber fazer uma boa escuta.

Por isso tudo, quase sempre partem para a briga, parece mais fácil.

7 – O que fazer quando o assunto em discussão volta o tempo todo nas conversas do casal?

Se os acertos não acontecerem e o assunto em questão não for urgente, volta-se a ele dentro de alguns dias, depois dele ter sido refletido por ambos. Nesse período é bom que o casal continue se tratando normalmente, evitando manifestações de descaso ou falta de carinho. As diferenças de pontos de vista são sempre incômodas, entretanto devem ser tratadas de forma adulta, civilizada e construtiva.

8 – O que seria conversar de modo construtivo? Parece tão obvio, mas, as pessoas geralmente não se saem bem. Porque isso acontece?

É conversar usando uma linguagem assertiva e cuidar para não desclassificar a pessoa que fez o ato o qual eu não gostou e sim a ação propriamente dita. A verdade é que a maior parte das pessoas não sabe conversar de modo construtivo, tendem a criticar os pontos de vista do parceiro, quase sempre transmitindo a impressão de que eles são pouco inteligentes ou pouco sensíveis. Agem de modo agressivo, falam palavras grosseiras logo no início das conversas e não percebem que isso magoa o interlocutor, que, ofendido, passa a usar sua inteligência para derrubar os argumentos que está escutando. O resultado é catastrófico, pois as brigas, quando sistemáticas, minam os sentimentos dos que se amam.

As relações crescem e se tornam ricas quando as pessoas sabem dialogar. Colocando as insatisfações de uma forma delicada: “eu tenho me sentido triste com esse ou aquele fato”, “não me agradam tantas e tais atitudes” “eu não gostaria de fazer isso ou aquilo” … Aí o parceiro, respondendo também na primeira pessoa e depois de ouvir e ponderar com atenção as palavras do amado, coloca seus pontos de vista. Esses são objeto de atenção e cuidadosa avaliação por parte do primeiro, que irá contra argumentar até que se evolua e chegue a algum ponto de convergência.

9 – Quais são as principais incompatibilidades?

Geralmente versam sobre os valores: Um acha que deve-se viver o casamento de maneira a separar bem a família atual e a família de origem e o outro não, fazendo disso motivos para brigas constantes. A religião também pode ser um motivo de incompatibilidade que pode levar até mesmo à separação. Pessoas com práticas religiosas intensas e diferentes costumam ser radicais quanto aos seus pontos de vista. A inveja ou o egoísmo também podem levar á pontos muito críticos na relação e gerar o rompimento. Outra questão séria é a incompatibilidade sobre a maternidade ou paternidade, ambos devem ter o mesmo desejo sobre ter ou não ter filhos.

10 – Tem um momento que o casal tem que dizer chega, quando se dá esse momento?

Quando as diferenças incomodam além da conta, ao ponto de só haver brigas entre o casal, então é hora de reavaliar o relacionamento. Vale a pena uma vida onde a tristeza é muito maior e a alegria praticamente deixa de existir apenas em nome de estar com alguém? Eu acho que não.

Acreditar que com a convivência pode mudar o parceiro ou a estrutura de personalidade dele é uma fantasia que causa frustrações. O melhor é olhar para outros horizontes.

11 – O que a ajuda profissional pode fazer? como uma terapia de casal pode ajudar?

O terapeuta tem um olhar e uma escuta privilegiada sobre o que está sendo discutido. Ele também dispõe da técnica e está emocionalmente neutro à questão e por isso tem o o distanciamento necessário para observar, diagnosticar e conduzir melhor a questão.

Entrevista na Rádio Inconfidência – 06/06/2017 – Revista da Tarde – Quadro Amor e Sexo

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