Quando vejo mulheres usando símbolos fálicos masculinos em mensagens subliminares ou para comunicarem algum nível de insatisfação pessoal, transferida para objetos, pessoas ou eventos políticos, penso logo em Freud e em sua tentativa em explicar a insatisfação feminina em sua famosa pergunta” O que quer uma mulher?”.
Pergunta repetida pelos pós freudianos e até agora, sem resposta objetiva.
Ao longo do seu extenso e brilhante trabalho, quando observava e escrevia sobre o desenvolvimento sexual infantil, ele faz uma citação: “Observa-se com facilidade que as meninas compartilham plenamente a opinião que seus irmãos têm um pênis.
Elas desenvolvem um vivo interesse por essa parte do corpo masculino, interesse que é logo seguido pela inveja. As meninas julgam-se prejudicadas (…) e quando uma delas declara que ´preferiria ser um menino`, já sabemos qual a deficiência que desejaria sanar” (Freud, 1976 [1908], p. 221).
Dessa afirmação ele desenvolve uma robusta teoria, que vem explicando, até hoje várias condutas femininas na sociedade e em seus relacionamentos afetivos sexuais. Explicada pela inveja não resolvida, do pênis. Como numa eterna busca do falo perdido.
A busca de igualdade de direitos cidadãos não deve ser confundida com o que estou dizendo. O sufrágio, o trabalho fora de casa, dentre outros, conquistados ou há conquistar são muito saudáveis e denota o quanto somos capazes, igual ou até mesmo, melhores do que os homens.
A maioria das mulheres não querem ser homens, e nem possuírem um corpo igual ao do homem, a maioria também não tem consciência de um dia ter desejado um pênis, ter um corpo de homem e nem lembram se já quiseram isso um dia.
O que a maioria deseja na vida, é ter o que o homem tem: pensar, agir, sentir como tal. Querem tudo, mas também desejam continuar a ser mulher, hetero, com a complexidade da alma feminina, mas com singeleza do agir masculino e alguns direitos que, infelizmente ainda prevalecem só para eles.
O amadurecimento do feminino se dá aos poucos, e é dinâmico, acontece durante a infância, e depois dela. Compreendemos que o desenvolvimento da sexualidade feminina possa ser complicado pelo fato de a menina ter a tarefa de abandonar o que originalmente constituiu sua principal zona genital – o clitóris – em favor de outra, nova, a vagina (Freud, 1974 [1931], p. 259). Isso tudo de maneira espontânea e inconsciente.
Se o processo do desenvolvimento se deu de forma natural e saudável em todas as suas fases e a criança entra na puberdade e adolescência tranquilamente, não acontece nenhum conflito que gere o complexo de castração e a estranha inveja do pênis não resolvida.
Na Clínica é possível perceber essas “fixações” frente a alguns quadros disfuncionais ou mesmo de sintomas isolados e que produzem muito sofrimento, e geralmente é o que motiva a pessoa a uma busca profissional.
A principal forma de manifestação do inconsciente é o sintoma. Ele nunca cai de paraquedas na vida de uma pessoa e quase nunca é apenas físico, biológico.
Portanto, vale uma escuta analítica, um bom diagnóstico e uma abordagem terapêutica adequada.
As relações familiares e principalmente as repressões feitas pela família durante o desenvolvimento sexual infantil, também contribuem para intensificar o sentimento da menina frente a diferença do seu corpo em relação ao do menino. Resultando mais tarde nesse sentimento de “castração” de falta, de não possuir, de se sentir diferente e inferior ao menino que” tem”, que possui, que não falta nada.
Podemos dizer, que tudo tem solução natural: A menina pode não ter no corpo um pênis mas, pode ter filhos, fazer muitos cursos, ter várias habilidades, ter reconhecimento e prestígio e também pode se sentir muito completa quando se une a alguém.
O pior, é quando se cria uma obsessão, transferindo para o social o turbilhão de conflitos que existe dentro de si. É quando transfere para os símbolos fálicos, alguma maneira de agredir, horrorizando as pessoas ou naturalizando o que não é comumente natural. Um verdadeiro processo de catarse coletiva, bastante compreensivo em se tratando de uma pessoa sofrida, mas que para o público em geral é difícil aplaudir ou aceitar.
Me parece que foi isso que aconteceu na Fiocruz, essa semana que passou, e que repercutiu bastante.
É dever do cidadão respeitar o outro, principalmente em ambientes públicos. Nossas casas podem ser decoradas de todos os símbolos fálicos (pênis, vaginas, etc) ou outros com representações diversas, tais como os de guerrilheiros. Podemos ali, nas nossas casas, projetar nossa personalidade, nossa alma. Está tudo certo.
Entretanto, o ambiente público não precisa refletir as ideologias de quem comanda e trabalha e muito menos os seus “recalques” pessoais. Nem no chão, nem nas paredes e teto. E se a consciência dessas obviedades não acontecem, quem sabe uma ajuda profissional pode ajudar?
Belo Horizonte, 30 de maio 2021
Sônia Eustáquia da Fonseca – CRP: 04-2386