Como fica o relacionamento afetivo sexual em tempos de confinamento?
Diante do que estamos vivendo em relação à pandemia do novo coronavírus e do confinamento a que somos forçados, as famílias e, principalmente, os casais têm se mostrado irritados, nervosos e impacientes.
Com a convivência intensificada, sentimentos que antes não apareciam, passam a surgir. É que a superexposição alimenta aquelas emoções que não deixamos brotar em situações comuns. Geralmente usamos mecanismos sociais, como a elegância, a boa educação, a paciência e a tolerância, para a manutenção das relações. Neste tipo de circunstância esses mecanismos se fragilizam e o filtro social fica mais relaxado, resultando muitas vezes em falas e atitudes grosseiras e impacientes.
Além disso, é bem comum numa situação como essa as pessoas pensarem mais intensamente em coisas ruins e pessimistas. De alguma maneira, estamos vivendo um “luto” antecipado. Somos tomados pelo medo e questionamos: Porque isso está acontecendo comigo logo agora que tenho mais tempo para descansar? De onde tem vindo tanta impaciência?
Mas por que isso acontece?
Em momentos como esses, alguns casais tendem a enxergar mais os problemas que incomodam no parceiro do que as qualidades que ele possui. Isso é um fenômeno humano que não se dá só entre casais vivendo em super exposição, acontece o tempo todo nos relacionamentos do dia a dia.
A verdade é que desejamos que o outro leia a nossa mente e adivinhe o que queremos e isso não vai ocorrer nunca, simplesmente porque ninguém tem esse poder. A frustração nesses casos é transformada em intolerância e somos levados a observar mais o lado ruim das pessoas do que o lado bom. Com isso, naturalmente, começamos a desqualificar o outro ou as suas atitudes. O problema mesmo, o que deixa um estrago maior, é quando desqualificamos a pessoa, e não a conduta a qual reprovamos. A relação vai ficando então a cada dia mais tóxica e em alguns casos chega a ser irrecuperável.
A frustração gerada quando não se é atendido nas expectativas, demonstra imaturidade e empobrecimento da inteligência emocional. Temos que lembrar que as comunicações se dão em uma via de mão dupla, não somos atendidos, mas também não conseguimos atender o outro em suas expectativas. E é por não sabermos o que fazer com esse sentimento, que ele é quase sempre projetado no outro no formato de impaciência, desconsideração e falta de amor.
Afinal, é possível manter a saúde conjugal mesmo diante dos conflitos que têm aparecido?
Ninguém vai passar ileso dessa pandemia e muito menos os relacionamentos humanos e afetivos/sexuais. Estamos vivendo momentos inéditos e importantes em nossas vidas e história. Nunca ficamos tão fisicamente juntos ao mesmo tempo que estamos separados de outros.
Os casais são convidados a todo momento a exercitarem as virtudes da tolerância, da humildade e da compaixão para sobreviverem a tanta exposição. O momento é rico para o crescimento da relação num todo, bem como do desenvolvimento individual.
Infelizmente, eu vejo num horizonte próximo, muitos divórcios e uma porcentagem grande de casais precisando de ajuda profissional para voltarem a se entender. Num momento como esse, não existe quase nenhum recurso disponível no âmbito social para ajudar esses casais, como sair para jantar ou dançar.
Na intimidade, as DRs já se esgotaram, e se esgotaram também as receitas prontas de como revitalizar a relação. Temos que exercitar a criatividade e também aproveitar o momento para o exercício individual de olhar para si mesmo, visando maior crescimento pessoal.
E como fica o desejo sexual nestes momentos?
Os ânimos ficam à flor da pele e qualquer pequeno motivo se transforma em gatilho para brigas e, como consequência, o desejo sexual do casal diminui. Acontece que a mente não consegue se ocupar com mais de uma coisa ao mesmo tempo, ela precisa selecionar e focar quando o assunto é amor e sexo. Sem foco nas sensações do corpo e nas fantasias, o sistema neuropsicológico não tem como mandar para os genitais uma resposta satisfatória, de desejo e excitação.
Há uma necessidade da interação entre os mecanismos de excitação e inibição no corpo humano, para promover um balanceamento dinâmico de influências excitatórias e inibitórias contínuas da resposta sexual. Essa interação deve ser considerada em todas as fases do ciclo de resposta sexual no sistema nervoso central. Como estamos nos intoxicando com as notícias que, de modo geral, desinformam e amedrontam, o nosso organismo fica muito mais propenso à inibição do que do que a excitação.
Por isso, devemos selecionar os meios em que buscaremos informações e nos conduzir para as ações de prevenção. Não entre em pânico, observe as segundas intenções da fonte de informação. Foque nas coisas boas e sensações gostosas do seu corpo. Aproveite esse período sem correria, para dar qualidade às suas relações afetivas. Não permita que um vírus mude tanto a sua vida e sua relação. Siga em frente. Relaxe. E se precisar busque ajuda profissional.