Vaginismo: quando a dor torna a penetração praticamente impossível
Muitas mulheres sentem dores na relação sexual. Dentre os diversos motivos que podem causar o desconforto está o vaginismo. Ele é a condição em que os músculos da região da vagina se contraem, fazendo com que a mulher sinta dores durante a penetração. Esta condição é extremamente incapacitante do exercício da sexualidade feminina e, em última análise, do casal.
Embora a maioria dos autores e sexólogos afirmarem que o vaginismo é relativamente incomum, há poucos dados estatísticos, o que torna difícil afirmar, com segurança, o exato percentual de frequência. O certo é que, nos últimos 10 anos elas têm procurado mais os consultórios para pedir ajuda. Essa busca pelo prazer feminino coincide com a evolução e liberdade sexual da mulher na cultura e sociedade.
Mas você sabe o que causa o vaginismo? Segue lendo este texto que irei explicar tudo o que você precisa saber sobre essa condição que tem cura, mas deve ser tratada com ajuda de profissionais qualificados.
O vaginismo
O Vaginismo é um reflexo dos músculos próximos à vagina, que se contraem involuntariamente, dificultando e até impedindo a penetração do pênis durante a relação sexual. Esse mecanismo dá início a um círculo vicioso de ansiedade em que, primeiramente, existe uma tensão, que gera dor na tentativa de penetração, que, por conseguinte, gera uma nova tensão, que causa mais dor na próxima tentativa e assim por diante.
Causas do vaginismo
Diferente de outras disfunções sexuais, normalmente, o Vaginismo não tem procedências orgânicas. Suas causas costumam ser psicológicas e o medo condiciona os músculos a uma reação de contratura. Esse medo pode ter diversos motivos, como tentativas coitais dolorosas e repetidas, educação restritiva e/ou punitiva, vivências educacionais destruidoras ou traumáticas, tentativa(s) de estupro, visualização de cenas de sadismo ou, até mesmo, de relatos distorcidos sobre a vida sexual.
Consequências
Com as dores provenientes do vaginismo muitas mulheres tem dificuldade em se relacionar intimamente com os parceiros, podendo causar problemas na relação. Os casamentos até podem durar, porém ficam muito desgastados. A frustração sentida pelo parceiro à cada tentativa leva-o à um sentimento de castração e o deixa sem saída, ou ele escolhe ser conivente com a situação e não procurar mais a relação com a sua mulher e consequentemente, também desenvolve sintomas, ou mostra essa insatisfação através de discussões e brigas o que leva geralmente ao desgaste e posterior separação.
Há exemplos em que mulheres com vaginismo sentem prazer ou ganho secundário, pela “falta” do orgasmo, uma vez que é comum viverem com parceiros “impotentes”, numa situação de complacência ou conivência sexual; trazendo assim um “pseudo” equilíbrio sexual, sem queixas. Em outros casos, há mulheres que desistem dos relacionamentos heterossexuais. E, há algumas, ainda, que sublimam inteiramente a sexualidade.
Além de tudo isso, o vaginismo também pode causar ansiedade e levar a mulher a ter problemas de baixa autoestima. É comum ainda que mulheres com essa condição tenha dificuldades em manipular a região da própria vagina.
No entanto, é importante entender que algumas pacientes vagínicas não têm problemas com desejo, com a excitação e/ou com orgasmo, respondendo bem ao estímulo sexual, têm boa lubrificação vaginal e consideram gratificantes as relações sexuais que não envolvem a penetração. Elas não precisam abandonar a luta pelo seu prazer nem mesmo deixar o seu parceiro somente em tentativas frustradas. Por isso, o terapeuta, além de trabalhar as causas com técnicas de aproximação para efetivar a penetração, também trabalha novas formas de relacionamento sexual que não envolvam a penetração.
Vaginismo x dispareunia
A dispareunia é a dor durante as relações ou só no início da penetração. Você deve, então, estar se perguntando qual a diferença dela com o vaginismo. Enquanto o vaginismo é causado por contrações involuntárias do músculo que tornam o ato sexual praticamente impossível, a dispareunia, ou dores durante a relação, tem outras causas. Essas dores podem aparecer por causa da lubrificação vaginal inadequada, malformações vulvovaginais, vulvovaginites, traumatismos vulvovaginais, alterações tróficas, lesões dermatológicas ou afecções do aparelho urinário, dentre outras.
Mesmo, geralmente, tendo causas físicas, há sempre um comprometimento psíquico, que contribui para ampliar a intensidade do sintoma doloroso. Na dispareunia, as causas psicológicas mais comuns encontram-se em histórias de vida marcadas por abuso sexual, por conflitos no relacionamento conjugal, ou por questões emocionais profundas e traumáticas que podem levar a pessoa a “boicotar” o prazer, por exemplo. A dor produzida pela tentativa de cópula soma-se à frustração e ao medo, gerando a tensão dos músculos constritores, o que deixa a mulher ainda mais apreensiva e agrava a situação vivenciada.
Tipos de vaginismo
O vaginismo pode ser dividido em dois tipos. É considerado vaginismo primário os casos em que a dificuldade se manifesta desde a primeira tentativa de penetração e, em geral, essas pacientes possuem o hímen íntegro ou parcialmente roto. Ou secundário, quando aparece após um período de vida sexual ativa, determinado por uma motivação suficientemente forte para estabelecer a resposta de dor do corpo.
O tratamento multidisciplinar
A primeira providência a ser tomada por quem está passando por este desconforto é procurar um especialista. Faz-se necessária, então, uma avaliação psicológica muito competente e criteriosa para não incorrer em erros no tratamento. Sem esquecer que é importante que o psicodiagnóstico seja realizado após o diagnóstico médico, o que trará segurança para que o especialista em sexualidade humana escolha corretamente os métodos e técnicas pertinentes ao tratamento. O prognóstico é muito bom e oferece um alto percentual de êxito.
O tratamento, idealmente, deve ser feito por uma equipe multidisciplinar, pois cada profissional irá abordar a disfunção de uma forma. O Médico, por exemplo, vai fazer recomendações à paciente ou ao casal e, as vezes, prescreve anestésicos. Já o fisioterapeuta vai trabalhar com os dilatadores para fortalecimento da musculatura responsáveis pelo ato sexual e o psicólogo terá uma abordagem de escuta e intervenções tanto no sofrimento produzidos pelos sintomas, bem como das causas.
Além dos profissionais, é importante que a paciente se esforce, pois ela é o principal meio para a obtenção de uma sexualidade saudável. No entanto, com a ajuda de profissionais qualificados a mulher se sentirá mais segura e amparada, além de ficar provida de recursos técnicos e terapêuticos.
O tratamento psicológico
Freud (1996), em sua vasta e maravilhosa obra, destaca a “castração” que é vivida pelas mulheres no processo normal de seu desenvolvimento sexual. Ele dá ênfase às possíveis marcas produzidas pelas vivências, inconscientemente dolorosas, que advém desse desenvolvimento e que mais tarde contribuirão para a formação de sintomas. Ao considerar esse viés, creio que o vaginismo seja apenas um sintoma – com raízes muito profundas e inconscientes – pertencente a uma determinada categoria de estrutura de personalidade.
O tratamento psicológico de uma paciente com vaginismo aborda individualmente a mulher portadora e pode ser concomitante ou não com a fisioterapia, para o uso dos dilatadores. Também é prudente atender o casal em seus conflitos e ultimamente eu tenho percebido a necessidade do atendimento individualizado para o parceiro também.
As teorias e técnicas sugeridas pela linha cognitiva e comportamental têm produzido bons resultados no manejo do programa terapêutico. Além disso, baseando-se na psicanálise, os especialistas em sexualidade humana podem trabalhar, não só as queixas, mas, também, as causas inconscientes e mais profundas do problema.
É muito importante não se conformar com a ausência do prazer ou com a presença da dor. Toda mulher merece ter prazer de verdade e ser feliz sexualmente! Para entender um pouco mais sobre a importância do prazer da mulher dentro da relação leia esse texto sobre afetividade, sexo e bem estar.