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Como a depressão influencia na sexualidade

A depressão influencia muito na sexualidade. Quando se está deprimido não se percebe o mundo da mesma forma, pensamos de modo negativo, ficamos tristes e fica bem perceptível o desinteresse pela vida e tudo dentro dela, incluindo o amor e o sexo. Para agravar a incômoda situação, os medicamentos para minimizar ou tratar os sintomas depressivos, normalmente, produzem disfunções sexuais em homens e mulheres.

A depressão

O transtorno depressivo recorrente é um estado de tristeza, pessimismo, baixa autoestima com ausência de prazer, grande oscilação de humor e pensamentos que podem culminar em comportamentos e atos suicidas. Ao contrário do que normalmente se pensa, os fatores psicológicos e sociais muitas vezes são consequência e não causa da depressão. 

Não é atoa que a depressão é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o “Mal do Século”. A prevalência (número de casos numa população) da doença é estimada em 19%, o que significa que aproximadamente uma em cada cinco pessoas no mundo apresentam o problema em algum momento da vida.

Há uma série de evidências que mostram alterações químicas no cérebro do indivíduo deprimido, principalmente com relação aos neurotransmissores – serotonina, noradrenalina e, em menor proporção, dopamina-, substâncias que transmitem impulsos nervosos entre as células.

Depressão e sexualidade

A relação entre depressão e sexualidade afetam negativamente ambos os sexos. Uma pesquisa publicada pelo Journal of Sexual Medicine, na qual foram entrevistados 200 homens, dentro da faixa etária de 20 a 77 anos e com níveis limítrofes de testosterona total entre 200 e 350 ng/dL, foi capaz de apontar dados que corroboram para a conexão entre depressão e sexualidade.

As informações colhidas pelo levantamento incluíam aspectos demográficos, histórico médico, uso de medicações, dentre outras, afim de apurar qual era a relação da quantidade de testosterona apresentada por esses homens em seus organismos e inconsistências na saúde mental dos mesmos.

Os resultados apontaram que a depressão e ou sintomas depressivos estavam presentes em 56% dos participantes, totalizando mais da metade do grupo. Além disso, a pesquisa também revelou que aqueles que faziam uso de medicamentos antidepressivos apresentam altas taxas de obesidade e baixo registro de atividades físicas. Eles representavam ¼ do grupo pesquisado. Os sintomas mais comumente relatados eram disfunção erétil, diminuição da libido, menos ereções matinais, baixa de energia e distúrbios do sono.

Já em relação a mulher, a pesquisadora Carmita Abdo, coordenadora do Projeto Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, afirma que a depressão afeta mais gravemente à mulher do que o homem: “Na mulher, ela [a depressão] é mais longa e os quadros são mais crônicos e recorrentes. É possível que entre os homens a doença seja subdiagnosticada”.

Foi observado que, das mulheres que procuravam o ProSex com queixas relacionadas a depressão, metade também reclama de baixo desejo sexual e 40% delas já haviam realizado alguma espécie de tratamento contra a enfermidade.  A expressividade do dado exposto acima se mostra na próxima informação revelada pela doutora Abdo, “o número de mulheres que fazem uso de antidepressivos e relatam algum tipo de disfunção sexual pode chegar à marca dos 70%”.

Assim como qualquer prática que exige alguma ação da parte física do organismo humano – alimentação, sono, locomoção, trabalho, dentre outros –, qualquer espécie de mal-estar psicológico infere criticamente no pleno funcionamento.

Por isso mesmo é que sim, a depressão afeta diretamente na prática sexual. A saúde mental e física andam sempre juntas e não podem, em hipótese alguma, serem separadas. A boa notícia é que, por se relacionarem, cuidar de uma é cuidar também da outra, preservando o bem estar do organismo como um todo.

Além disso, diversos fatores relacionados à depressão podem desencadear problemas sexuais. Um deles está relacionado às medicações. Quase sempre, elas trazem efeitos colaterais para o usuário. Geralmente afetam o desejo e retardam o orgasmo.

Já existe uma linha de medicação que não afeta a sexualidade. No entanto, ela não é indicada em todos os casos. Caso uma pessoa necessite de uma medicação para depressão ela deve tomar mesmo tendo efeitos colaterais negativos em seu desempenho sexual. Muitas vezes é preferível atender primeiramente o que traz riscos para o paciente.

O desejo sexual também pode ser comprometido por mais um fator, que é a dificuldade da pessoa deprimida em fazer contatos interpessoais, já que, normalmente, ficam em casa paradas e sem ânimo para nada, e o sexo exige vitalidade.

Nesses casos, as redes sociais podem ajudar. O problema é que uma pessoa em estado grave de depressão sente dificuldade em acessar a rede por causa do desânimo. Além disso, existe muita vulnerabilidade no deprimido e as percepções do indivíduo ficam alteradas, aumentando a possibilidade de fazer más escolhas.

A falta de prazer

O prazer fica muito reduzido se não houver um desejo, mais ou menos específico, mais ou menos concreto, que nos predisponha a ter um relacionamento íntimo. A perda de motivação em todas as áreas vitais se reflete especialmente na perda ou redução do desejo sexual ou erótico que afeta diretamente as relações sexuais.

Incapacidade de criar fantasias eróticas é uma consequência da perda do desejo, porque as fantasias estão associadas a ele. Se ter um relacionamento sexual fosse como comer uma torta de queijo, o desejo sexual corresponderia aos ingredientes e as fantasias sexuais seriam as diferentes maneiras de combinar esses ingredientes para criar algo que vale a pena desfrutar.

Como afeta o casal

A depressão condiciona as relações sexuais de formas muito diferentes. Dessa forma, ela afeta especialmente aquelas dinâmicas que ocorrem dentro de um casal, porque há um vínculo emocional, uma comunicação mais íntima, um compromisso presente e futuro e, afinal, uma vida em comum.

No casal, quando um dos membros está imerso em um processo depressivo, ocorre uma série de mudanças, como desejo sexual ou erótico baixo ou inexistente.

Diante de um diagnóstico de depressão o parceiro ou parceira deve agir sem julgamentos. Emitir algum tipo de julgamento quando o parceiro(a) expressa a falta de desejo antes de uma relação sexual poderá causar um desconforto particularmente significativo.

Além disso, não deve haver pressões. Respeitar os ritmos e espaços do outro, não confundindo as mudanças de humor com a falta de desejo. Não querer ter relações sexuais corresponde a um processo depressivo, não a um problema pessoal.

Por fim, é importante que o(a) parceiro(a) mostre disponibilidade e peça ajuda profissional. Demonstrar inclusive disponibilidade para acompanhar nas consultas, se necessário.

Assertividade é a maneira correta de comunicar os nossos desejos, sem ceder a qualquer pressão e sem expressar o que queremos, ou não queremos, de maneira agressiva. Muitas vezes, pessoas com depressão geram um grande sentimento de culpa por não atender às expectativas dos outros. Por sua vez, isso gera uma resposta de comunicação passiva, como um mecanismo compensatório.

Em um contexto íntimo, as pessoas têm a capacidade de decidir quando fazer e quando não fazer sexo. De fato, muitas vezes acontece que em um casal uma das pessoas quer fazer sexo e a outra não. Mas quando uma pessoa tem depressão, geralmente tem mais dificuldade em expressar a sua falta de desejo sexual. Portanto, recorre ao mecanismo compensatório que é ceder ao desejo do parceiro. 

Embora falemos em termos de um casal, a autoestimulação também merece uma consideração especial. Esta é uma parte muito importante de nós, uma fonte de autoconhecimento, exploração e prazer que podemos acessar em nossa privacidade. Estes tipos de relacionamentos também são afetados quando sofremos de depressão. De fato, não é incomum que a frequência da masturbação diminua consideravelmente.

Mesmo quando alguém deprimido faz sexo, o prazer será comprometido de tal forma que não haverá um registro de que a atividade sexual valeu a pena. Isto favorece a piora do desejo sexual. A depressão não permite desejo sexual, e ainda dificulta mais a vivência de sexo.

O tratamento

O diagnóstico de uma disfunção sexual que tem como origem a depressão se inicia na escuta ao paciente. Em uma consulta, o profissional certamente vai investigando também o humor da pessoa que queixa de uma disfunção. A partir das informações é possível fazer um diagnóstico preciso. Muitas vezes é necessário o uso de algum medicamento e também ampliar o foco da terapia para que ela contemple os dois problemas.

O tratamento da depressão deve ser realizado com psicoterapia e medicamentos. Esses remédios não provocam vício como alguns pensam e são necessários mesmo quando têm efeitos colaterais que atrapalham o desempenho sexual.

A terapia é simples e, de modo geral, ajuda muito o paciente em todos os aspectos de sua vida. Ela poderá tratar a disfunção sexual concomitante à depressão.

Já a psicoterapia auxilia na reestruturação psicológica da pessoa, além de aumentar sua compreensão sobre o processo de depressão e na resolução de conflitos, o que diminui o impacto provocado pelo estresse.

Alguns pacientes precisam de tratamento de manutenção ou preventivo, que pode levar anos ou a vida inteira, para evitar o aparecimento de novos episódios.

O tratamento adequado da depressão vai contemplar também os pensamentos pessimistas. Não existe nenhuma técnica ou tratamento específico para atender e mudar os pensamentos negativos. A pessoa pode escolher fazer boas leituras, não se envolver em noticiários ruins e levar uma vida saudável fazendo exercícios físicos dentre outras condutas positivas.

É importante lembrar que as pessoas deprimidas não querem se sentir assim. Elas gostariam de ter um nível de atividade, um humor diferente e desfrutar do sexo.

Se você se identificou com alguns ou todos os sintomas mencionado, ou se acredita estar passando por alguma dificuldade psicológica, procure um especialista para ter um diagnóstico concreto e iniciar o tratamento mais adequado para o seu caso.

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